Tenório Telles
A vida não é um caminho fácil. É uma travessia repleta de desafios, em que somos chamados, a todo instante, a reafirmar convicções, valores e os sonhos que nos sustentam. Não sabemos de onde viemos, nem para onde vamos, mas, ainda assim, seguimos viagem, enfrentando tempestades, o furor das vagas e o desconhecido. Buscamos. Estamos sempre em busca de algo que dê sentido às nossas vidas, que nos proporcione alegria e contentamento, ainda que sejam tantas as dúvidas, os medos e as incertezas.
O fato é que somos impelidos a seguir. A vida, como um rio, segue sempre, embora seja difícil decifrarmos os mistérios de seu caminhar, as surpresas que nos esperam, as perdas e os naufrágios. Não há viagem sem percalços, enganos e desencontros. Dessas vivências, marcantes e dolorosas, nascem o aprendizado das coisas, a maturidade e o entendimento. Não há como crescer sem pagar o tributo necessário à vida. Por isso, trazemos no corpo e no ser as marcas dos embates que travamos nesse percurso pelas veredas do mundo.
Esse caminhar pela enigmática geografia da existência é um campo de provas. Nossa força e valores são testados; nossa fé e resistência são desafiadas cotidianamente. Essas experiências fazem parte do processo de depuração e fortalecimento de nossa têmpera, como o aço que adquire solidez pelo fogo. É verdade que nem todos suportam o desespero das provações. Não são poucos os que sucumbem, que buscam os atalhos ou se acomodam à sombra da covardia ou sob a proteção dos tiramos e poderosos. Ao invés de assumir o comando de suas vidas, contentam-se em ser coadjuvantes. Traem o milagre e a promessa que lhes estava destinada.
Gente assim é como árvore estéril, não dá frutos. Vive o amargor da irrealização, a vergonha de estar sempre a serviço das ambições alheias, a angústia de não ter tido coragem para enfrentar o destino e experimentar a maior de todas as conquistas: SER. Como é triste a existência desses seres obscuros que cumprem suas histórias sem ousadia, sem paixão e sem esperança. Como árvores estéreis, não florescem. Que triste viver sem florir, sem encantar os olhos dos passantes com a beleza e o brilho de suas folhas e frutos! Ou sem a alegria dos passarinhos atraídos pelo perfume de suas flores!
A vida, entretanto, não é uma metáfora da derrota e da covardia. A vida é uma metáfora da bravura, da generosidade e do amor. Os seres humanos que perseveram no cultivo do bem, do compromisso com o próximo e na esperança de construção de um mundo mais justo, construído sob o signo da justiça e da dignidade, justificam o grande milagre, que é a própria vida e seus encantos, e honram as conquistas e os valores mais nobres da civilização. Fazem parte de uma linhagem de seres que trazem no peito a luz e o sentimento do mundo. Por isso sofrem, por isso sonham, por isso choram. Por isso se perguntam e, às vezes, se desesperam, insurgem-se e se lançam no abismo da incerteza, de onde ressurgem alados, pássaros brancos a serviço da liberdade e da promessa de redenção do mundo. Por isso, seguem acreditando, apesar da brutalidade, da opressão e da mesquinhez – essa ferrugem que esteriliza os corações e obscurece os sentimentos.
Afinal, caminhar é uma escolha. Para os que ficam no porto, restam a segurança, a rotina sufocante e a morte. Aos que seguem, que enfrentam as incertezas e os temores do grande mar da vida, as belezas do desconhecido, as riquezas da aprendizagem e a descoberta de tesouros só reservados aos que ousaram ser senhores de suas histórias e verdades. E depois de tudo, seguir caminhando. Afinal, é quando chegamos à outra margem que começa verdadeiramente a viagem.