Amigos do Fingidor

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Carta a um amigo imaginário
Tenório Telles

Bom Companheiro,

Os dias andam tão incertos e a vida tão diminuída pelo desamor e a indiferença. Pensei em ti e uma saudade súbita assaltou-me o coração. Nos momentos escuros da caminhada, restam-nos os amigos como consolo. Mesmo distantes, estão sempre receptivos aos nossos anseios e compreensivos com as nossas tristezas e fragilidades. O bom da amizade é a certeza de que teremos sempre o aconchego e a mão amiga nos momentos em que fraquejamos. O sábio Aristóteles considerava que um amigo é “uma alma solitária que vive em dois corpos”.

Lembro de ti e ouço tuas palavras tão vivas e cheias de entendimento. Tens razão, o mundo anda esvaziado de bondade e nobreza. Os interesses e mesquinharias contaminaram o convívio entre os homens. A amizade é uma flor rara nesse deserto em que se transformou a vida. Ter um amigo é um presente de Deus. Por isso, saber que estás vivo, que respiras, me enche de contentamento e me fortalece porque sei que não estou sozinho. Quem tem um amigo nunca está só.

Amizade é como uma planta – precisa ser cuidada. É preciso regar, adubar, proteger. Ninguém está livre das intempéries e maldades do mundo. Sem falar nas circunstâncias que determinam nossas vidas e que também falhamos com quem nos quer bem. É assim que tudo se constrói, inclusive a amizade. Hoje sei que gente como você ajuda a existência a ser melhor, torna a vida mais bonita. Quando a descrença se insinua no meu ser, lembro-me de ti e a minha esperança se reacende.

Sinto-me responsável pela nossa amizade. Embora tudo esteja tão banalizado e o ceticismo corroendo o humano coração, mantenho-me esperançoso, certo de que a vida vale a pena e que as coisas não estão perdidas. Enquanto existir na Terra, mesmo com as guerras, com a violência e a mentira, alguém capaz de amar e ser amigo, a promessa de redenção e recomeço se renovará. Tê-lo como companheiro de travessia me redime e justifica a minha existência neste planeta que insiste em negar ao ser humano o direito de ser – feliz, pleno, belo e amigo.

Receba, bom amigo, neste dia em que se celebra a amizade o meu coração, o que de melhor há em mim – terra e água que ajudarão a florescer a rosa da nossa amizade.