Zemaria Pinto
Frustrada a intenção inicial
de passar ao largo
da literatura , tento
redirecionar a conversa
para assunto mais ameno , mas sem desviar o rumo . Sei que Bacellar é um
leitor compulsivo .
“Leio para manter a mente ocupada .
É mais que
mero lazer ;
tem efeito terapêutico .”
Literatura policial é a preferência , embora aprecie
a literatura culta
e ensaios sobre
assuntos diversos .
Nero Wolfe, criação de Rex Stout, é seu detetive
favorito – cultor de orquídeas e gourmet requintado,
“Wolfe é um crítico
da sociedade burguesa capitalista
de Nova Iorque.” Maigret, de George
Simenon, e Rippley, de Patricia Highsmith, “autores
extraordinários como
estilistas e de uma erudição
extraordinária ”, compartilham a preferência do poeta de Sol de feira. No Brasil, aprecia o detetive Espinosa, criação
de Luiz Alfredo Garcia-Roza, um refinado
e inverossímil intelectual a serviço da polícia
civil do Rio
de Janeiro.
Bacellar, em 2007, no seu aniversário de 79 anos. Foto: Zemaria Pinto. |
Da alta
literatura , cita como
seu preferido o francês
Flaubert, “toda a obra ,
com destaque
para Salambô
e Bouvard e Pécuchet”. Na sequência,
os também franceses Marcel Proust, de Em busca do tempo perdido, e Victor Hugo,
de Os trabalhadores
do mar , além
de “alguma coisa ” de Zola. Entre
os russos, destaca Tchekhov e Gorki – “romances ,
contos , dramaturgia ”.
Em língua
inglesa, Henry James e Norman Mailer, além
de uma “descoberta ” recente :
Truman Capote , especialmente
por Música para camaleões
e Bonequinha de luxo. No Brasil, “Guimarães
Rosa e Clarice Lispector são os maiores ”.
Formado em Antropologia
pelo Centro Brasileiro de Pesquisas
Educacionais e Sociais
– CBPES, fundado por
Anísio Teixeira, onde foi aluno de Darcy Ribeiro ,
Bacellar tem uma outra faceta pouco conhecida do público :
sua carteira
na Ordem dos Músicos
do Amazonas tem o número
03. Copista e especialista
em transposição (“passagem
de um tom
ao outro ou
de um instrumento
a outro ”, como
ele mesmo
explica), foi professor de História
da Música , no Conservatório da Universidade Federal
do Amazonas . Particularmente ,
o poeta do Quatuor
aprecia a música negra
norte-americana , mas
sua paixão
é mesmo a música
erudita , de Bach a Schönberg.
Momento de descontração, em 2007, no legendário El Perikiton. Foto: Zemaria Pinto. |
Para encerrar, depois de
falar de tantas preferências, pergunto-lhe do que não gosta. Ele abre um meio-sorriso
maroto que termina numa sonora gargalhada: “eu não gosto
de dar entrevistas ,
porque, invariavelmente, deturpam tudo o
que eu
disse!”