Amigos do Fingidor

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Ovada ou cusparada?


 

                                                      David Almeida


Meu caro amigo leitor, e eleitor, já que estamos em plena campanha política – e esse tema está em evidencia –, venho por estas poucas linhas perguntar: se você ganhasse um prêmio e tivesse que escolher entre uma “ovada” e uma “cusparada”, qual dos dois você escolheria? Quero que fique bem claro, transparente, que não estou acusando ninguém, e nem “cusparando” ou “ovando” quem quer que seja. Só vou comentar sobre as palavras: cusparada e ovada, na mira da simplicidade popular, nada científico!  

Bem, no meu caso, como sou ator, compositor e jornalista, formador de opinião, compromissado com a ética e respeito pela cidadania, preferiria a “ovada”. E sabe por quê? Porque, o ovo é um símbolo de fertilidade, o ovo produz a vida, e alimenta a vida. O ovo mata a fome, e é barato. Quem já não ouviu essa frase: “só quer ser gatinho mas só come ovo!”. O ovo faz parte de uma gastronomia mais que democrática! Todos: ricos, pobres, miseráveis tem acesso a essa iguaria. Uma “ovada” é energizante, cura até doença. Quem está fraco, sem prazer para vida, mais que devagar, é aconselhado uma “ovada”.  Uns amigos meus, inclusive jornalistas que já estão dobrando o Cabo da Boa Esperança, estavam já sem animo, sem apetite, em todos os sentidos, quando a famosa Mãe Diná, lhes receitou, “ovada” (gemada) todas as manhãs, seguiram a risca a receita da vidente, e hoje estão rindo com as paredes, cheios de vitalidade.  A vida depois de uma “ovada” nunca será mais a mesma.  

A “ovada” tem vários sentidos, tanto para o bem quanto para o mal, mas tem muito mais para o bem. Se eu fosse o compositor de “Geni e o Zepelim” (Chico Buarque de Holanda), não teria jogado pedra, nem bosta na Geni, e sim uma “ovada”.  Será, parente? Só para ilustrar, eu, quando completei 50 anos, fui metralhado com um “cartelada” de ovo, pelo corpo inteiro, os meus amigos estavam felizes e resolveram me presentear com essa chuva da fertilidade, depois vieram os abraços, os parabéns, enfim, foi uma “meladeira” só, todos também se lambuzaram de ovo e de felicidade. Eu quase chorei, apesar de índio não chorar, assim, tão fácil, mas foi emocionante. A dor foi física, por causa do impacto da “ovada”, mas a alma estava extasiada de prazer. 

No entanto, a saliva, matéria prima de onde se deriva a “cusparada” é de fundamental importância, fisiologicamente é responsável pela lubrificação da boca para que as palavras fluam de uma melhor maneira, e a sua dicção não seja prejudicada e o alvo seja atingido. Agora quando não tem mais palavra, aí, a “cusparada” é um assunto sério, ademais, nunca vi ninguém fazer uma homenagem com uma “cusparada”, é algo deprimente, depreciativo, nojento. E quando uma pessoa olha pra outra e cospe no chão, fere na alma, é sinal de extremo desprezo. 

Só se cospe quando algo na boca não está dando certo, a cusparada está em sintonia com sujeira, com o que é ruim, sem gosto. Tudo que você prova e não gosta é cuspido, portanto, serve também como uma manifestação, espontânea, de insatisfação com qualquer coisa, que não esteja em sincronia com o seu pedaço de chão.  

Mas, dependendo do momento e do gosto do individuo, uma “ovada” ou uma cusparada será ou não bem-vinda. Rezemos ao senhor!