Amigos do Fingidor

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Séculos 19 e 20: ética médica no ritmo do avanço da tecnologia



João Bosco Botelho


As reconstruções da ética médica, no século 19, se caracterizaram pelo esforço dos filósofos da ciência e juristas para acompanhar os extraordinários avanços da ciência e da tecnologia aplicados ao diagnóstico e tratamentos das doenças. Essa tendência está caracterizada: busca do agente etiológico de muitas doenças; utilização de equipamentos que podem alcançar onde os olhos desarmados não entendem; exames micrológico (célula e bactéria) e ultramicrológico (molécula) de partes do corpo ou de doenças para firmar o diagnóstico clínico; reprodução nos laboratórios de reações físicas ou químicas que se passam no corpo; maior domínio das doenças infecciosas ligadas às epidemias temidas – bacterianas: hanseníase, tuberculose, estafilococcias, estreptococcias, malária, tifo, tétano; e virais: AIDS, gripe aviária e outras viroses.

A medicina se acoplou às ideias evolucionistas de Charles Darwin e, sem imaginar a grandeza da descoberta, em 1865, presenciou a publicação de Gregor Mendel, sobre o cruzamento de ervilhas, inaugurando o pensamento molecular, por mim entendido como o Terceiro Corte Epistemológico da Medicina.

Por todas essas razões, o século 19 fortaleceria a anatomia-clínica que assentou as bases da atual formação médica e a fisiologia, ampliando as respostas quanto aos diagnósticos e tratamentos.

Ao mesmo tempo em que as ordens sociais compensavam com elogios a Medicina e os médicos pelos inimagináveis progressos no controle de muitas doenças infecciosas, as ideias políticas giravam em torno de seis vertentes, que nos anos seguintes proporcionariam outras discussões na ética médica: o humanismo de Feuerbach; o evolucionismo de Darwin; o individualismo romântico de Chateaubriand; o manifesto de Marx e Engels; o positivismo de Comte e o historicismo de Hegel.

O século 20, estruturado por transformações ainda mais complexas nas práticas médicas, refletiu no aumento da longevidade, que, em certos países, acrescentou mais de vinte anos à média de vida das populações.

O maior destaque da segunda metade do século 20 foi a genética, a partir da descoberta da cadeia espiralada do ADN, em 1953, por Watson e Crick, com todas as suas variáveis: estudo do genoma humano, inseminação artificial, antibióticos, métodos anticoncepcionais, métodos terapêuticos experimentais e novos saberes na virologia, imunologia, cancerologia, traumatologia, radioterapia, quimioterapia, vacinas – que forçaram outras mudanças e novas leituras dos códigos de ética médica.