Amigos do Fingidor

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Marchinhas eternas


Pedro Lucas Lindoso

O carnaval acabou. Para muitos brasileiros o ano só começa mesmo depois dos festejos do Momo. Dr. Chaguinhas, jurista e filósofo amigo, comentou que este ano as marchinhas, principalmente as bem antigas, fizeram muito sucesso.
Havia blocos, em todo o Brasil, nos quais só se cantavam as tradicionais marchinhas de carnaval. O axé baiano, que dominou muitos carnavais nos últimos anos, parece que arrefeceu um pouco.
Para Chaguinhas, marchinhas como “Mamãe eu quero mamar” está atualíssima. Em época de malfeitos e denúncias de corrupção, não falta gente mamando nas tetas da viúva. “Ei, você aí, me dá um dinheiro aí”. Vai na mesma onda. Quanto aos furtos de menor monta, tem aquela: “Eu mato, eu mato! / Quem roubou minha cueca para fazer pano de prato”.
 Lá no sudeste devem ter cantado muito “Tomara que chova! Três dias sem parar!” Afinal o calor e a falta d’água são assuntos diuturnos. A oposição ao governo deve ter se esbaldado cantando “Se você fosse sincera, Õ, ô,ô,ô Aurora” e “A canoa virou, Deixa virar; / Por causa da menina, / Que não soube remar”.
Há algumas que a turma da patrulha ideológica considera politicamente incorretas, mas não deixam nunca de fazer sucesso: “O teu cabelo não nega, mulata” e “Olha a cabeleira do Zezé / Será que ele é”.
Como os excessos fazem parte do carnaval, as bebedeiras em particular, uma das mais tocadas sempre é: “As águas vão rolar / Garrafa cheia eu não quero ver sobrar / Eu passo a mão na saca, saca, saca-rolha / E bebo até me afogar”.
Em tempos de crimes encomendados envolvendo socialites casadas e seu amante, também comprometido, nada mais atual que a famosa “Sassassaricando, Todo mundo leva a vida no arame, / Sassassaricando / A viúva, o brotinho e a madame”.
As marchinhas de carnaval fazem parte da nossa cultura e da nossa nacionalidade. Devem ser preservadas. As marchinhas são debochadas e inesquecíveis e fazem parte de um Brasil antes de tudo brejeiro e feliz, um Brasil gentil que não pode desaparecer.
Nos diversos blocos que tomaram as ruas do Rio de Janeiro este ano, uma das marchinhas mais tocadas foi Cidade Maravilhosa. O Rio de Janeiro estava em festa, celebrando seus 450 anos. Viva o Zé Pereira e Viva o carnaval!