Zemaria
Pinto
Para
Luna, Rafael, Pietra e Aimée:
que
o Brasil de vocês seja melhor que o meu.
Eu
tinha 7 anos quando meu pai,
que
sempre chegava com a luz do sol,
entrou
na sala alumiada pelo candeeiro
–
Eles tomaram tudo, espancaram e prenderam inocentes.
(Aquela
noite insana
iria
se alongar
em
nossos corações
por
mais 21 anos.)
Eu
tinha 10 anos quando soube
da
morte do Che, pelos jornais.
Da
mesma forma, depois,
de
Marighella e Lamarca.
Aos
13 anos, li as Memórias do velho Graça
e
os Subterrâneos do Cavaleiro Jorge,
e
escrevi poemas que clamavam
por
liberdade de expressão.
Aos
18, faculdade:
me
embriaguei de debates,
passeatas,
concentrações,
entre
outras rebeldias.
Aos
25, um novo partido,
com
a cara de trabalhadores,
mudava
a cara da política
que
dominava o país.
Aos
28, sem Diretas Já,
vi,
passivo, um pusilânime
conduzir
o sonolento gigante
à
beira do precipício.
(Carol
nasceu na ditadura;
Paloma,
com a democracia;
Amanda,
com a Constituição.
O
sol brilhava sem pudor.)
Aos
32, começou a jornada
da
jovem estrela vermelha:
três
eleições perdidas,
três
tristezas renascidas.
Aos
45, afinal,
com
Lula e Dirceu à frente,
a
alegria da vitória
de
um governo para o povo.
Durante
14 anos,
sem
medo de ser feliz,
o
povo tomou a frente
e
a miséria foi vencida.
Foram
muitas as batalhas,
as
derrotas foram muitas,
até
que se deu o golpe:
fomos
tirados à força.
Prenderam
Lula, prenderam,
sem
qualquer prova cabível,
a
esperança do povo:
mas
jamais esmorecemos.
Aos
61, agora,
a
esperança refloresce,
na
fala sóbria de Haddad,
na
solidez de Manu.
(Maria,
que ama o rosa e o vermelho,
nada
sabe de esperança,
mas
canta todos os jingles
que
a mãe Tainá lhe alcança.)
Não
temos um adversário;
temos,
sim, um inimigo:
nazifascista,
misógino
homofóbico
e racista.
Vamos
vencer pelo voto,
arma
do povo prudente,
cantando
numa só voz:
–
Lula livre, Manu vice
e
Haddad presidente!
Zemaria
Pinto – nascido sob o governo socialdemocrata de JK, tem 19
livros publicados, de poesia, ficção e ensaios. É eleitor-fundador do PT, desde
1982, quando votou em Oswaldo Coelho, seu professor de História no Colégio Ruy
Araújo, em Manaus, que lhe ensinara que a vida que está nos livros é a vida que
vivemos, todos os dias – somos nós, o povo, que construímos a História.