Amigos do Fingidor

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Autobiografia po(é/lí)tica



Zemaria Pinto

Para Luna, Rafael, Pietra e Aimée:  
que o Brasil de vocês seja melhor que o meu.


Eu tinha 7 anos quando meu pai,
que sempre chegava com a luz do sol,
entrou na sala alumiada pelo candeeiro
– Eles tomaram tudo, espancaram e prenderam inocentes.

(Aquela noite insana
iria se alongar
em nossos corações
por mais 21 anos.)

Eu tinha 10 anos quando soube
da morte do Che, pelos jornais.
Da mesma forma, depois,
de Marighella e Lamarca.

Aos 13 anos, li as Memórias do velho Graça
e os Subterrâneos do Cavaleiro Jorge,
e escrevi poemas que clamavam
por liberdade de expressão.

Aos 18, faculdade:
me embriaguei de debates,
passeatas, concentrações,
entre outras rebeldias.

Aos 25, um novo partido,
com a cara de trabalhadores,
mudava a cara da política
que dominava o país.

Aos 28, sem Diretas Já,
vi, passivo, um pusilânime
conduzir o sonolento gigante
à beira do precipício.

(Carol nasceu na ditadura;
Paloma, com a democracia;
Amanda, com a Constituição.
O sol brilhava sem pudor.)

Aos 32, começou a jornada
da jovem estrela vermelha:
três eleições perdidas,
três tristezas renascidas.

Aos 45, afinal,
com Lula e Dirceu à frente,
a alegria da vitória
de um governo para o povo.

Durante 14 anos,
sem medo de ser feliz,
o povo tomou a frente
e a miséria foi vencida.

Foram muitas as batalhas,
as derrotas foram muitas,
até que se deu o golpe:
fomos tirados à força.

Prenderam Lula, prenderam,
sem qualquer prova cabível,
a esperança do povo:
mas jamais esmorecemos.

Aos 61, agora,
a esperança refloresce,
na fala sóbria de Haddad,
na solidez de Manu.

(Maria, que ama o rosa e o vermelho,
nada sabe de esperança,
mas canta todos os jingles
que a mãe Tainá lhe alcança.) 

Não temos um adversário;
temos, sim, um inimigo:
nazifascista, misógino
homofóbico e racista.

Vamos vencer pelo voto,
arma do povo prudente,
cantando numa só voz:
– Lula livre, Manu vice
e Haddad presidente!


Zemaria Pinto – nascido sob o governo socialdemocrata de JK, tem 19 livros publicados, de poesia, ficção e ensaios. É eleitor-fundador do PT, desde 1982, quando votou em Oswaldo Coelho, seu professor de História no Colégio Ruy Araújo, em Manaus, que lhe ensinara que a vida que está nos livros é a vida que vivemos, todos os dias – somos nós, o povo, que construímos a História.