Pedro Lucas Lindoso
Houve um tempo em que não havia Faculdade de Medicina em
Manaus. Os que queriam ser médicos iam estudar na Bahia ou no Rio de Janeiro.
Alguns hoje dão nome a hospitais e ruas da cidade.
No final de 1965, o Conselho Universitário da então
Universidade do Amazonas houve por bem instalar a Faculdade de Medicina. Nos
seus primórdios, a Faculdade funcionou no antigo Grupo Escolar Plácido Serrano,
ao lado do Hospital Getúlio Vargas. Hoje é uma instituição respeitada. Mas
muitos duvidaram que pudesse vir a firmar-se como uma boa Escola de Medicina.
Nas décadas de 1960 e 1970 não havia muitas instituições
privadas de ensino superior no Brasil, como hoje em dia. O vestibular era uma
guerra. No sudeste muitos jovens conseguiam ser aprovados no vestibular, mas
não entravam no curso porque todas as vagas haviam sido preenchidas. Ficavam
numa lista de espera. Eram os excedentes. Alguns deles foram admitidos na então
recém-criada Faculdade de Medicina da Universidade do Amazonas.
Conheci Dr. Hipócrates em Brasília. Goiano de nascimento,
Hipócrates Resende tinha mesmo que ser médico. Com esse nome! Ao saber que era
de Manaus, contou-me que estudou Medicina aqui. Veio como excedente. Depois de
formado, foi trabalhar numa comunidade do interior, na região do Baixo
Amazonas.
Lembrou-se de que por lá não se fala alô. É “alu”. O pessoal
troca a letra “o” pelo “u”. Canoa é “canua”. E também se fala “tombém”. Foi
quando conheceu Rosa. Ou melhor, dona Rusa, técnica de enfermagem do
ambulatório em que foi trabalhar.
Durante muito tempo Rusa foi a “médica da comunidade”.
Hipócrates sabiamente fez dela uma aliada. Permitiu que fizesse triagem dos
pacientes. Dona Rusa chamava-o, carinhosamente de “duturzinho”.
Certo dia, chegou uma jovem, também chamada Rosa, acompanhada
de uma mãe visivelmente preocupada. Dona Rusa examinou-a. Eis o relato:
– Duturzinho, ulha já! Examinei a “muça”. Manchas
“arruncheadas” pelo corpo. Deve ter sido marrada ou badalada. O que o senhor
acha?
Com medo de errar, Hipócrates fez um diagnóstico cumulativo:
– Foi marrada e badalada, Rusa. Diagnóstico final. Estamos
conversados!