Soneto de um novembro findo
Francisco Calheiros (1968-2020)
A mim me resta apenas o desejo
de perecer seguindo algum espaço,
de naufragar na busca do que faço,
de reviver da forma em que me vejo:
um flagelo de homem de tristeza,
proletário de um mundo sem sentido
que, quanto mais se busca, se é vencido
pelas farpas do tempo da pobreza.
Que me resta, senão a própria morte?
Enfim, somente o ocaso faz-se eterno,
num horizonte assim a me ocultar.
A mim me restará também a sorte
de um homem que não soube ser moderno,
mas que viveu somente para amar.