Amigos do Fingidor

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

A poesia é necessária?

 Soneto de um novembro findo

Francisco Calheiros (1968-2020)

 

A mim me resta apenas o desejo

de perecer seguindo algum espaço,

de naufragar na busca do que faço,

de reviver da forma em que me vejo:

 

um flagelo de homem de tristeza,

proletário de um mundo sem sentido

que, quanto mais se busca, se é vencido

pelas farpas do tempo da pobreza.

 

Que me resta, senão a própria morte?

Enfim, somente o ocaso faz-se eterno,

num horizonte assim a me ocultar.

 

A mim me restará também a sorte

de um homem que não soube ser moderno,

mas que viveu somente para amar.