Historia de un amor
Zemaria Pinto
Estar aqui, no meio de tanta gente
alegre ou triste e me sentir sozinho como nunca estive, não existem palavras
para expressar. É uma dor vazia. Uma sensação de queda. As mãos inúteis não
seguram, sequer tocam. É um pesadelo em que me vejo correndo na escuridão, sem
saber para onde vou nem do que fujo, e, de repente, a queda, o vazio, o nada...
Dizem que a rotina corrompe o amor. Para nós, ao contrário, o amor era uma suave
liturgia: desde o acordar até o adormecer, e todos os pequenos gestos, as mais
corriqueiras ações, os atos mais banais, tudo era parte do sagrado ritual
cotidiano, onde o bem e o mal se encontravam na mais perfeita harmonia. A luz
que dela emanava e iluminava o nosso caminho apagou-se e me jogou nas trevas
dessa existência sem sentido.
Historia de um amor (1955), de Carlos Eleta Almarán (Panamá, 1918-2013). Bolero.
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