Dos almas
Zemaria Pinto
O que
Deus uniu só o ser humano pode separar. Foi o que se deu conosco. O edifício de
felicidade que construímos com tanto empenho e dedicação ruiu por terra, num
repente, quando a sombra do ódio nos envolveu. Daquele ponto em diante, ficou
impossível continuar: a desconfiança minou nossas almas, de um lado e de outro,
como uma doença que, progressivamente, corroesse nossos corpos até secá-lo, aos
ossos. Ela morreu para mim. Mas ficaram as boas lembranças, de antes da doença,
em que a alegria não conhecia a inveja e o ciúme. Se nosso amor fora abençoado, por que, quando
mais precisamos d’Ele, Deus nos abandonou?
Dos almas (1945), de Dom Fabián (Argentina, 1915-2001). Bolero.
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