Amigos do Fingidor

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

A poesia é necessária?

 

Viajante

Tainá Vieira

 

Os dias são longos

feitos de tédio

anseio pela noite

longa e alegre.

 

O corpo sobre a cama

nem vê a noite passar,

enquanto a mente voa

como vampiro que espera

a escuridão para caçar,

saio em disparada

rumo à liberdade

para qualquer lugar.

 

Já assisti ao fim do mundo,

já tive muitos filhos

já matei alguém

já me vi criança

já fui homem

já fui bicho.

 

E já vi a minha própria morte,

estavam me velando

estavam chorando

estavam celebrando,

 

eu ali deitada

morta, no caixão

pálida, feia e fria

tal qual a morte

que me deu essa visão.

 

E quando o cortejo ia saindo

de súbito gritei

– estou viva!

mas ninguém me ouvia

ninguém me via,

eu não estava ali.