Amigos do Fingidor

sexta-feira, 12 de março de 2021

Bolero's Bar 29

Vereda tropical 

Zemaria Pinto


Foi há muito tempo, nossas primeiras férias. Ela era pouco mais que uma adolescente. O hotel à beira-mar era um convite à contemplação: a brisa úmida queimava o sal em nossos lábios e sons de longes canções se mesclavam à suave música das ondas. Maré baixa, a extensão da praia era um jardim de caminhos entrelaçados – até hoje sinto o seu hálito quente e ouço suas palavras sem nexo, suas gargalhadas sem motivo. Mas tudo são lembranças, apenas. Já não há mais praia, não mais mar, não mais brisa, não mais canção. E não há nossos desejos explorando, cegos, aqueles caminhos tortuosos.     

 

Vereda tropical (1938), de Gonzalo Curiel (México, 1904-1958). Bolero.

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