Vereda tropical
Zemaria Pinto
Foi há
muito tempo, nossas primeiras férias. Ela era pouco mais que uma adolescente. O
hotel à beira-mar era um convite à contemplação: a brisa úmida queimava o sal
em nossos lábios e sons de longes canções se mesclavam à suave música das
ondas. Maré baixa, a extensão da praia era um jardim de caminhos entrelaçados –
até hoje sinto o seu hálito quente e ouço suas palavras sem nexo, suas gargalhadas
sem motivo. Mas tudo são lembranças, apenas. Já não há mais praia, não mais
mar, não mais brisa, não mais canção. E não há nossos desejos explorando,
cegos, aqueles caminhos tortuosos.
Vereda
tropical (1938), de
Gonzalo Curiel (México, 1904-1958). Bolero.
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