Pedro Lucas Lindoso
Manaus
celebra em 28 de fevereiro mais um ano da SUFRAMA – Superintendência da Zona
Franca de Manaus. Recebo um WhatsApp de tia Idalina.
– Li
que a Zona Franca faz aniversário. Pensei que tinha acabado.
Disse-lhe
que o importante está vivo e produzindo muitas coisas. Apesar de constantes
ataques de empresários do Sudeste. A zona franca hoje é o nosso PIM – Polo
Industrial de Manaus.
Mas,
para titia, a zona franca acabou faz tempo. Durante anos, quando vinha a
Manaus, fazia compras e mais compras, naquela muvuca do Centro da cidade. Os
mais velhos se recordam. Lojas e lojas apinhadas de gente. As famosas
importadoras.
Tia
Idalina ainda tem em sua casa, em Copacabana, um filtro inglês, à base de
carvão, comprado naquela época. Outra coisa que conserva com carinho é um
conjunto de porcelana chinesa. Ela tem o jogo completo. Inclusive, um enorme
vaso, que decora sua casa já por décadas. Possui ainda dois conjuntos de
faqueiros importados, que vinham num estojo de plástico, muito prático de
guardar. Ela tem dois. Um prateado outro dourado.
Há
ainda em sua casa dois leões azuis de porcelana chinesa, com formato de
pequenas carrancas. Ela diz que são guardiões e exerceram função protetora
contra energias negativas. Tudo isso comprado nas importadoras do Centro, que
durante anos faziam a alegria de turistas consumidores como Idalina.
Outra
mania de titia eram as batas indianas e os lenços de seda. Numa de suas viagens,
chegou a levar mais de 50 lenços. Foram confiscados pela alfândega. Sim!
Tínhamos alfândega para sair de Manaus. Ela disse que era para presentear
amigas e para uso próprio. Não convenceu o fiscal. Ficou só com uma dúzia.
A sorte
foi que o fiscal não notou que titia levava seis relógios Seiko importados,
dentro de um pote com doce de cupuaçu.
Outra
coisa que titia sempre levava para as amigas de Copacabana eram uns famosos
baralhos de plástico. O Brasil só produzia baralhos de papelão. Os de plástico
aqui eram bem baratos e no Sudeste custavam o olho da cara.
Outra
encomenda recorrente eram as famosas calças Lee. No Rio de Janeiro, chegavam a
custar cinco vezes mais caro. Os sobrinhos e amigos cariocas encomendavam
também máquinas fotográficas Canon, aparelhos de som e videocassetes. Titia
também fazia a festa com os tecidos importados. Uma variedade enorme de panos
oriundos de diversos países do mundo.
Disse-lhe
que isso tudo é coisa do passado. No que ela me respondeu.
– Morro
de saudades. Dessa Zona Franca e dos voos da Varig.