Amigos do Fingidor

terça-feira, 1 de junho de 2010

O estranho caso da Vila da Barra – 2

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Marco Adolfs



Ao passarmos aquela travessa, subimos por uma providencial escada tosca e atingimos um pequeno caminho que levava à parte habitada da cidade. Notei, então, à minha esquerda, uma construção estranha, uma espécie de cercado com um palco central e nas laterais dois pequenos pedaços de madeira onde se lia “Teatro”. Salgado, percebendo a minha curiosidade natural de recém-chegado àquela localidade, explicou: “Este palco armado serve para apresentação de pequenos autos escritos pelos religiosos que aqui vivem e educam as crianças do lugar”. Depois, mostrou-me o Seminário e o antigo local do cemitério indígena com uma ermida em madeira, coberta de palha e dedicada a Nossa Senhora da Conceição. “Um pouco mais a oeste fica a construção quadrangular do antigo Forte de São José da Barra do Rio Negro”, destacou Salgado. No alto de um promontório, duas construções destacavam-se pela própria localização. Perguntei o que eram e ele me disse tratar-se do Palácio dos Governadores e da Provedoria de armas e munições. “Mas o Palácio é muito feio”, observou, enquanto eu me esforçava para subir um trecho íngreme do barranco.

Atingindo uma rua acima do porto, verifiquei que naquela parte da cidade quase não havia habitações. A vegetação tomava conta de cada palmo de terra. Algumas casas de palha e umas poucas construções de um ou dois pavimentos, feitos em madeira, apareciam aqui e ali. Observei que poucas casas estavam cobertas com telhas e que suas paredes eram pintadas de amarelo ou branco, com as aduelas das portas e janelas, ostentando a cor verde. Notei também que naquelas imediações da vila, por onde quer que caminhássemos, havia sempre umas árvores com grandes folhas em palmas a obstruir parte do caminho. Embora perdidos no emaranhado dessas árvores e de outras plantas, de vez em quando meu cicerone retomava a indicação dos locais dizendo que estávamos entrando no bairro de São Vicente de Fora e que a rua por onde começávamos a caminhar era conhecida como rua Liberal. Disse-lhe então que meu destino seria a casa de um comerciante português de nome Antônio Lourenço, que morava no início da rua do Imperador, no bairro da Imperatriz. Salgado afirmou conhecê-lo e que não seria incômodo algum levar-me até lá. Depois, mais uma vez chamou minha atenção para um local, no cimo de uma colina, onde um imenso barracão projetava-se todo reluzente, falando que ali existira a Olaria Imperial, “hoje com os fornos apagados”, completou. Em seguida esclareceu ainda mais, dizendo que “durante muitos anos ela produziu todos os potes que serviam para acondicionar as banhas de tartarugas”. Ao contornarmos um matagal, apontou a Câmara Municipal – “um local de intrigas e mal-entendidos” – fez questão de destacar. Continuou apresentando o lugar, dizendo que naquelas imediações também se localizavam o pelourinho e a cadeia.

(Continua na próxima terça)