Amigos do Fingidor

terça-feira, 15 de junho de 2010

O estranho caso da Vila da Barra – 4

Marco Adolfs


Após falar sobre uma série de assuntos do lugarejo, o senhor Lourenço passou então a apresentar seus familiares. Os dez filhos que tivera com sua primeira mulher, já falecida, e mais três que haviam nascido de sua união com uma jovem nativa. Ao todo, treze mirradas e aparvalhadas crianças mestiças.

– Este aposento está a sua disposição – disse o português, todo sorridente, enquanto abria uma enorme porta de madeira que alcançava o teto, para mostrar o quarto onde eu ficaria acomodado. – Ele é conjugado com um outro, menorzinho, e possui dois janelões que dão para uma bela vista lá fora – explicou. Pode ficar à vontade.

Assim que o hospitaleiro português saiu, passei a arrumar minhas roupas em cima de uma pequena mesa. Coloquei então a muda mais leve que tinha e procurei relaxar meu corpo cansado em uma rede feita de cipó que, maravilhosamente, estendia-se convidativa de um lado a outro do quarto. Mas, meu descanso não demorou muito, interrompido que foi com uma batida na porta. Quando a abri, um pouco contrariado devido à interrupção, deparei-me com um criado da casa, um índio baixo e sorridente, avisando-me, através de gestos, que o almoço estava servido.

– Bem, doutor Pompéia, espero que goste da nossa comida! – foi logo dizendo o português, assim que cheguei ao local da casa onde todos estavam reunidos. Um misto de surpresa e curiosidade estava estampado naqueles rostos mestiços a me observarem.

– É um caldo quente de peixe misturado com uma farinha de raiz indígena chamada mandioca – continuou o português, enquanto apresentava o prato principal. O senhor vai gostar desse nosso peixe, tenho certeza – afirmou.

Naquele momento notei que a única mesa do recinto não daria para acomodar a todos. Porém, assim que o senhor Lourenço se aproximou, imediatamente a criadagem e as crianças começaram a sentar-se pelo chão, cada qual segurando um recipiente de madeira, que chamavam “cuia”, à espera da comida que fumegava em um tacho colocado ao centro da mesa. Um dos criados então adiantou-se, pegou o caldo de peixe e começou a servir. Junto à mesa ficara apenas eu, o senhor Lourenço, sua jovem mulher e o criado que me chamara para almoçar...


(Continua na próxima terça)