Amigos do Fingidor

terça-feira, 22 de junho de 2010

O estranho caso da Vila da Barra – 5

Marco Adolfs

– Doutor Pompéia – retomou a falar o senhor Lourenço, enquanto me fitava incisivamente –, deves ter percebido que esta nossa localidade passa por momentos difíceis. A invasão de alguns indivíduos vindos pelo rio nos deixou arrasados e com a economia abalada. Enfrentamos ainda o problema da subordinação política e de não admitirmos mais que esta comarca continue dependente do governo do Grão-Pará. Tempos atrás – continuou, misturando os assuntos – houve um levante sangrento na Barra e nós, portugueses, chegamos a temer por nossas vidas. Enfim, a cidade tenta recuperar-se disso tudo. Sinceramente, não sei o que pode ainda nos acontecer daqui para frente. Está tudo tão ruim – lamentou o português, enquanto cofiava as pontas de seu espesso bigode. O comércio está precisando de uma empurradela vigorosa, ora pois – disse, cabisbaixo. A castanha, a salsaparilha e o peixe têm sido nossa salvação. Outros produtos, também muito procurados, foram escasseando e cada vez fica mais difícil encontrá-los. O que temos dá apenas para sobreviver, digo. Precisamos de uma ajuda que nos tire dessa situação.

– E a produção daquela goma elástica? – resolvi perguntar, levando a conversa para a direção imediata ao meu interesse. – Aquela árvore que produz leite?

– Sim, da seringa!... Em alguns países da Europa existem artigos que são...

– ...Aqui restam poucas pessoas que ainda trabalham com essa árvore e ficam em uma região distante da vila – interrompeu o português. É claro que algumas barcas descem o rio com essa borracha. Mas é cada vez mais escassa.

– Mas a produção vai aumentar! – exclamei, com enigmático entusiasmo. E os objetos provenientes desse látex não vão servir apenas para compor tecidos de cintas e ligas ou de suspensórios e sapatos que se destroem em poucos meses – completei, com uma confiança estampada no rosto que assustou a todos.

– Como assim? – perguntou o português, ansioso e intrigado com meu entusiasmo.

– Coisa de um ano atrás um tal de Goodyear, da América, aperfeiçoou a descoberta que um outro sujeito havia feito. É um processo novo de transformação do látex em goma elástica chamado vulcanização. Os objetos de borracha adquirem uma estabilidade e tornam-se duráveis. Essa goma elástica poderá ser ainda mais usada para fazer novos e variados objetos – expliquei, quase eufórico.

(Continua na próxima terça)