Amigos do Fingidor

domingo, 23 de janeiro de 2011

O corpo nu é a mensagem: Regina José Galindo

Jorge Bandeira


Cada vez mais, um sinal de alerta e aviso permanece em minha mente: sem a arte nosso Naturismo terá vida efêmera, servindo apenas para holidays de júbilo e encontros ocasionais de naturistas eventuais e não permanentes. Esta constatação é feita por mim ao me deparar com uma artista singular, ou pelo menos não comum: Regina José Galindo. As performances de nudez total dessa guatemalteca são lindas e profundamente sugestivas do impacto que nossa nudez pode causar aos transeuntes, ao cidadão, ao pensador, ao povo.

Performance com uma nudez que é urgente, que desmascara as atitudes terríveis de ditaduras e preconceitos. Em muitas delas o código de ética do naturismo internacional é contemplado de forma brilhante, e isso é um serviço magnífico que essa artista presta ao movimento naturista. Uma nudez de combate, o inverso da nudez ocasional de final de semana, que como toda lógica das férias e dos passeios, passa tão rápido que pouco fica em nossa memória. O que permanece, que tem vida mais durável nos cantos profundos de nossas consciências, são atitudes de reflexão, de impacto sensorial. A diversão é importante, claro, mas apenas isso é muito pouco para as urgências naturistas que precisamos vencer: ampliação de naturistas, participantes ativos nos grupos e associações, jovens que são peças raras em nosso movimento, ampliação dos núcleos familiares que cada vez estão sumindo de nossos encontros.

Atividades de sensibilização são este novo-velho eixo que devem vir à tona neste século XXI para o Naturismo. Há momentos que a ação direta deve ocorrer, de forma imediata, nas frentes culturais, por exemplo: teatro, música, artes plásticas, poesia, dança, vídeo, fotografia, hipertexto naturista etc. Escolha uma e deixe de lado, um pouco, os comes e bebes dos encontros. Tenha um tempo para ensaiar. Veja abaixo como o CORPO NU de uma artista pode contribuir com nossa querida causa naturista, que faz com que tenhamos uma esperança no futuro. Para não cair em contradição com o que acabo de digitar neste universo binário da informática, as imagens das performances em nudez total ou parcial de Regina José Galingo serão acompanhadas de legendas poéticas, para uma maior apreciação estética e crítica de vocês, nobres leitores, nus, nuas, com vestes ou sem vestes.

PELE – Ao caminhar nua pelas ruas mais erráticas deste corredor de infinidades corporais, depilei cabelos e pelos dos mais especiais. Não basta só tirar a roupa para que percebam que existo, e se acham que de outro planeta sou, restaram-me os cílios para me terem em suas retinas serenas. A minha nudez não mais os embaraça, um outro código visual foi retirado de minha derme. Ninguém se aproxima, temem o câncer gay, nestes termos mesmo, seus baús conservam códigos primordiais de preconceitos. Nua, prossigo meu caminhar em busca do tempo perdido, longe demais de Marcel Proust.







PLÁSTICA – Eu sou este pedaço de carne/eu peso muito/preciso emagrecer de forma urgente/meu médico falou que minha conta bancária é suficiente para garantir minha alegria/meu corpo é feito de televisão e de cinema/eu sou a máquina excludente/eu vivo por minhas sobras/o lixo hospitalar me agrada/satisfaz meu paladar.
















PENA – Prisioneira e violada pelo regime/política gosta de nudez/quem disse que não está mentindo/nudez serve ao estado/quem disse que não está mentindo/minha anistia não carrega etiquetas/eu sou a mulher nua que não está todos os meses nas bancas/nua, carrego minha sombra vestida de sangue e lágrimas.










BLIND – Nua para ninguém/olhos que não me comem/eles precisam pegar no meu corpo nu/a sensação completa jamais será alcançada/sou a estátua da amargura nua/não jorra água de minha fonte/talvez/para minha perplexidade maior/estes seres que me tocam entendam minha nudez em sua essencialidade/arranquemos nossos olhos/voltemos a enxergar.

 
 
 
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