Amigos do Fingidor

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A saga do paroara

Jorge Tufic



Artista plástico, desenhista, escritor (dos maiores da ficção nordestina), Audifax Rios comparece agora com este poema ou romancim (verbete criado por Virgílio Maia), um canto em décimas sobre a figura polêmica do paroara, na designação de Houaiss “nordestino residente na Amazônia”, cuja aventura se valoriza aqui sob o halo de forasteiro desbravador a serviço do progresso do País, ou, ainda, um migrante que sonha tornar aos seus pagos natais bafejado pelos ventos da fortuna.

Excelente a ideia do Autor que, homenageando o poeta Thiago de Mello, fundamenta o critério de sua escolha no reconhecimento e no valor humano, a cada dia mais válido e atual, dos famosos Estatutos do Homem. E deles extrai, como ponto de partida, o primeiro verso de cada décima desta saga maravilhosa que temos diante de nós, nordestinamente ilustrada pelo próprio Audifax, um traço bastante familiar na paisagem cearense.

Na verdade uma ode, um hino, um desvendamento de mistérios, uma palavra de ordem.

Ode porque celebra as vitórias e os feitos desse personagem incomum na história dos Soldados da Borracha, tido, ainda, como contratante e atravessador de milhares de flagelados pela seca. Hino porque exalta o heroísmo de sua gente, essa obra gigantesca de construção deste nosso Brasil moderno. Põe a nu os mistérios porque paroara não vem de Pará nem de macaco, no caso desse audaz paladino, mas de ave-homem que voa aos sons da viola e acorda cedo para trabalhar. E palavra de ordem porque, ao tomar por empréstimo versos dos Estatutos do Homem, o canto de Audifax estabelece, enfim, que doravante não haverá mais nenhum tipo de discriminação entre Norte/Sul/Sudeste etc.

Isso porque temos sangue perdido na floresta, e suor derramado sobre o concreto tirano. A verdadeira alma brasileira ainda é verde e sertaneja.

Mais bela que a estrela da manhã.