João Bosco Botelho
O
encantamento da astrologia, como prática divinatória indicando caminhos para
melhorar a saúde e evitar a morte, consolidou-se nos primeiros núcleos urbanos,
pelo menos há quatro mil anos.
É
difícil separar a astrologia das antigas crenças e ideias religiosas. Os vestígios
dessa intrincada dependência podem ser rastreados em alguns registros em
escrita cuneiforme, nas tábuas de argila, na Mesopotâmia, do segundo milênio
a.C.: o sinal gráfico correspondente ao divino é o mesmo da palavra estrela. Os
deuses babilônicos, Schamasch, Sin e Ischtar, eram os guardiões do céu sob a
forma do Sol, da Lua e do planeta Vênus.
Dessa forma, a força social da
astrologia para manter a saúde, na atualidade, não deveria causar tanta
admiração. Muitas palavras atuais estão repletas de significado astrológico. O
prefixo latino menstruus, que
originou “menstruação”, está ligado ao
processo repetitivo de vinte e oito dias do mês lunar.
Para estarem mais próximos dos astros
– representação física dos deuses – os homens construíram templos nas montanhas
próximas mais altas: os chineses, no Himalaia; os japoneses, no Fuji; os
gregos, no Olimpo, e os hebreus, no Sinai. Onde não existia montanha, os povos
construíram pirâmides. Os mais antigos exemplos, os zigurates, na Mesopotâmia,
com o topo dedicado à morada e culto dos deuses.
Apesar das adaptações adquiridas
frente aos movimentos sociais, a astrologia divinatória conservou a primitiva
estrutura de sedução: utiliza a adivinhação dedutiva, a partir da interpretação
do movimento astral.
No Império de Augusto, em Roma, a
administração adotou a semana planetária de sete dias. Com a gradativa
cristianização, os primeiros padres iniciaram uma forte resistência ao culto do
Sol, identificado com o deus egípcio Mitra. A resistência está muito clara no Evangelho
de São Paulo, repreendendo os Gálatas (Gl 4,8-10), que continuavam adorando as
mesmas divindades do politeísmo, para identificar os dias e os meses.
Os médicos medievais ao utilizarem a
concepção neoplatônica de similitude entre o macrocosmo e o microcosmo
conduziram ao extremo seus prognósticos astrológicos, criando situações
bizarras. A saúde, a doença, o sexo e a procriação estavam sob a decisiva
influência dos astros. Entre as muitas contraindicações para realizar uma
cirurgia, era aceito pelos cirurgiões que se a Lua estivesse no signo zodiacal do
paciente, a complicação pós-operatória seria consequência da umidade do planeta
sobre a ferida operatória.
O Renascimento europeu reafirmou o
prestígio da astrologia. Os reis e papas só seriam coroados se a data fosse de
presságio auspicioso. As ricas residências, capelas, igrejas, abadias ficaram repletas
de afrescos, ampliando a glória do poder astral.
A certeza coletiva de que os planetas
determinavam o rumo da vida era de tamanha solidez que a estatística de
mortalidade da cidade de Londres, no ano de 1632, registrou treze mortes por planet ou pela influência do planeta.
Nos dias atuais, o astrólogo continua
atuando como curador, diminuindo a insegurança em relação ao futuro
desconhecido e a morte temida.