Amigos do Fingidor

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Buscando a saúde na astrologia


João Bosco Botelho

 

            O encantamento da astrologia, como prática divinatória indicando caminhos para melhorar a saúde e evitar a morte, consolidou-se nos primeiros núcleos urbanos, pelo menos há quatro mil anos.

            É difícil separar a astrologia das antigas crenças e ideias religiosas. Os vestígios dessa intrincada dependência podem ser rastreados em alguns registros em escrita cuneiforme, nas tábuas de argila, na Mesopotâmia, do segundo milênio a.C.: o sinal gráfico correspondente ao divino é o mesmo da palavra estrela. Os deuses babilônicos, Schamasch, Sin e Ischtar, eram os guardiões do céu sob a forma do Sol, da Lua e do planeta Vênus.

            Dessa forma, a força social da astrologia para manter a saúde, na atualidade, não deveria causar tanta admiração. Muitas palavras atuais estão repletas de significado astrológico. O prefixo latino menstruus, que originou “menstruação”, está ligado ao processo repetitivo de vinte e oito dias do mês lunar.

            Para estarem mais próximos dos astros – representação física dos deuses – os homens construíram templos nas montanhas próximas mais altas: os chineses, no Himalaia; os japoneses, no Fuji; os gregos, no Olimpo, e os hebreus, no Sinai. Onde não existia montanha, os povos construíram pirâmides. Os mais antigos exemplos, os zigurates, na Mesopotâmia, com o topo dedicado à morada e culto dos deuses.

            Apesar das adaptações adquiridas frente aos movimentos sociais, a astrologia divinatória conservou a primitiva estrutura de sedução: utiliza a adivinhação dedutiva, a partir da interpretação do movimento astral.

No Império de Augusto, em Roma, a administração adotou a semana planetária de sete dias. Com a gradativa cristianização, os primeiros padres iniciaram uma forte resistência ao culto do Sol, identificado com o deus egípcio Mitra. A resistência está muito clara no Evangelho de São Paulo, repreendendo os Gálatas (Gl 4,8-10), que continuavam adorando as mesmas divindades do politeísmo, para identificar os dias e os meses.

            Os médicos medievais ao utilizarem a concepção neoplatônica de similitude entre o macrocosmo e o microcosmo conduziram ao extremo seus prognósticos astrológicos, criando situações bizarras. A saúde, a doença, o sexo e a procriação estavam sob a decisiva influência dos astros. Entre as muitas contraindicações para realizar uma cirurgia, era aceito pelos cirurgiões que se a Lua estivesse no signo zodiacal do paciente, a complicação pós-operatória seria consequência da umidade do planeta sobre a ferida operatória.

            O Renascimento europeu reafirmou o prestígio da astrologia. Os reis e papas só seriam coroados se a data fosse de presságio auspicioso. As ricas residências, capelas, igrejas, abadias ficaram repletas de afrescos, ampliando a glória do poder astral.

            A certeza coletiva de que os planetas determinavam o rumo da vida era de tamanha solidez que a estatística de mortalidade da cidade de Londres, no ano de 1632, registrou treze mortes por planet ou pela influência do planeta.

Nos dias atuais, o astrólogo continua atuando como curador, diminuindo a insegurança em relação ao futuro desconhecido e a morte temida.