Tainá Vieira
Queria te dar noticias, falar de como as coisas
estão depois da tua viagem. Não quero te incomodar, pois sei que deves estar
descansando e desfrutando os prazeres que só os iluminados merecem, enquanto
nós, míseros mortais, vivemos a tua saudade. Confesso que a minha vida
tornou-se um pouco melancólica, me arrependo de não ter ido quando me chamavas,
podia ter te dado um pouco mais de atenção. Podia ter aprendido tanta coisa que
tu sabias. Devia ter te explorado mais. Às vezes vejo-me lembrando daquele teu
sorriso, há, já falei do teu sorriso outras vezes, ele me seduzia, era único.
Tu sabias sorrir como um príncipe medieval: era um sorriso raro, porém,
precioso. Erguia a sobrancelha, puxava um canto da boca, teus lábios finos
dançavam as quatros estações de Vivaldi, a fim de impressionar donzelas e
matronas nefelibatas. E quando discursavas tuas palavras deixavam-me embevecida
pelo torpor que elas causavam, era como um vinho que embriaga e arrebata a
alma. Outro dia, sonhei contigo, alias, te sonho sempre, tu és lembrado em
todos os momentos, o tempo todo. Sabes por quê? Porque tu davas muita sabedoria
a nós, pobres miseráveis de alma e de coração. Ignorantes nesta terra de
hipócritas e abutres rastejantes, com suas taças nas mãos, mendigando a água da
sabedoria. Perdoa-me por essa loucura, mas tu ficaste entranhado em mim, como a
essência da tua poesia. E só precisava te dizer mais uma coisa: foi muito mais
que um prazer ter te conhecido!