Amigos do Fingidor

quarta-feira, 14 de maio de 2014

História da Medicina nas universidades do Amazonas



João Bosco Botelho

         Nos primeiros anos da década de oitenta, como reação aos excessos terapêuticos das práticas médicas, se iniciou em algumas universidades europeias, em especial a Universidade de Paris V (Pierre e Marie Curie), onde conclui o doutorado, em 1981, a proposta para incluir a História da Medicina no currículo.
         Em Manaus, a primeira ideia para a inclusão da Disciplina da História da Medicina no currículo do Curso de Medicina da antiga FUA, nasceu entre os anos de 1984 a 1986, junto ao Projeto Eden, do Departamento de Medicina Especializada, quando foram levantados dados sociais e médicos em Coari e no bairro Novo Paraíso, na periferia urbana de Manaus: ficou patente que grande parte da medicina praticada no hospital universitário estava distante da compreensão de saúde e doença das três mil pessoas entrevistadas.
         Tudo começou no Departamento de História, da UFAM, com a professora Vânia Tadros orientando as reuniões para discutir o programa, a metodologia e a bibliografia. Finalmente, a Disciplina de História da Medicina foi oferecida em caráter optativo.
         O ensino da História da Medicina possibilita analisar a tendência para substituir os conceitos positivos da imobilidade da saúde e da doença pela convicção da existência do equilíbrio dinâmico entre ambas, onde a relação do homem com a totalidade social é estruturante. A certeza do sociocultural produzindo doença está presente nos livros sagrados, escritos há quatro mil anos. Naquelas épocas, os legisladores utilizaram os seus pode­res disponíveis e interferiram nos hábitos coletivos de popula­ções inteiras. Com essa atitude conseguiram determinar, ao longo dos séculos que se seguiram, modificações na cadeia epidemiológica de muitas doenças.
         Nas diversidades de apresentações, as doenças acom­panham o homem no processo de humanização. Sob este ponto de vista é possível entendê‑las como formas de expressão da vida, onde cada cultura cristaliza as próprias condições de luta para o enfrentamento.
         Com as pressões impostas pela industrialização acelerada do Ocidente, o ensino da medicina passou a considerar somente como verdadeiro e produtor de saúde as relações científicas vindas dos laboratórios de pesquisa. Tudo apoiado na certeza de que a utili­zação de aparelhos para intermediar a ação médica seria responsá­vel, em futuro muito próximo, pela melhoria das condições de saúde do homem.
         Os anos que se seguiram mostraram exatamente o contrário: a melhoria da qualidade da vida e a longevidade não estão atreladas à parafernália da tecnologia médico‑industrial e à su­permedicalização e sim às medidas básicas de saneamento, mora­dia, educação, trabalho e lazer. Nas palavras de Jacques Le Goff: "A doença não pertence somente à história superficial do progresso científico e tecnológico, mas à estrutura profunda dos saberes e práticas ligadas às estruturas sociais, às instituições, às representações e às mentalidades".
         De lá para cá, o ensino da História da Medicina alcançou as faculdades de medicina em Manaus. Após a minha aposentadoria como professor titular, na UFAM, o Prof. Dr. Rodolfo Fagionato, ex-orientando no Mestrado em Cirurgia (UFRJ) e no Doutorado em Biotecnologia (UFAM), assumiu a Disciplina e continuou o ideário acadêmico.

         Prosseguindo o processo acadêmico, vários professores fundaram a Sociedade Amazonense de História da Medicina, no dia 18 de janeiro de 2013, no auditório do Laboratório Reunidos.