Amigos do Fingidor

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Medalha do Mérito Cultural Péricles Moraes 2007 – 4/7



Zemaria Pinto

Tendo se dedicado ao estudo do piano desde os sete anos, Ivete buscou sempre o aprimorar-se: estudou teoria da música, solfejo e harmonia, além de canto e história da música. Esse detalhe, aliás, jovens que me ouvem, é de fundamental importância. Qualquer que seja o seu talento, ele poderá aflorar plenamente sobre dois pilares: a Teoria e a História. Ninguém se desenvolve além da medianidade, em qualquer área do conhecimento humano, se não se tornar íntimo dessas duas senhoras. Ivete Ibiapina tinha, além do talento inato, a formação necessária para seguir em frente e brilhar, com o seu trabalho incansável, que seria, desde muito cedo, reconhecido por todos.
Mas a professora Ivete Freire Ibiapina não foi da escola de música que leva o seu nome. Antes mesmo da fundação da escola, desde os dezesseis anos, a menina Ivete exercitava seu dom (e sua paciência) como professora do Jardim da Infância[1] e do Primário. Mais tarde, senhora do seu ofício, além de piano, em diversas escolas, foi professora também de Canto Orfeônico.
Formada em Filosofia, em 1974, quando recebeu o Anel Simbólico como a melhor aluna do curso, pela universidade que hoje chamamos UFAM, Ivete foi também professora, entre outras matérias, de História das Artes, Museologia, Filosofia da Educação, História da Educação e História da Filosofia.
Fiz questão de mencionar o currículo da professora Ivete para mostrar a vocês que, mesmo conhecendo-a como eu a conheço, há mais de 20 anos, sempre a relacionei com a música, com o piano. E, no entanto, está o seu talento sendo explorado em outros ramos do conhecimento. Pois querem mais? Além de colaborar regularmente na imprensa local, com inúmeros artigos sobre música, artes e cultura, Ivete Ibiapina escreveu quatro peças de teatro. Todas encenadas, sendo duas delas em pleno Teatro Amazonas, um palco reservado a poucos...
Mas o espírito inquieto da professora Ivete sempre esteve em busca do novo. Assim é que, após 30 anos da fundação da Escola de música que leva o seu nome, Ivete, juntamente com jovens alunos e não tão jovens ex-alunos, fundou o NUAM – Núcleo Artístico do Amazonas, a 17 de novembro de 1984.
Pessoalmente, essas quatro letras me trazem gratas recordações. Dos três espetáculos Manaus, poema e canção – uma história da música e da poesia em nossa cidade, que eu roteirizei e apresentei, no Teatro Amazonas. E dos encontros ArtLivre, realizados todo primeiro sábado do mês, na casa de número 451 da 10 de Julho: foram 78 palestras, ilustradas com música, dirigidas, entre outros, pelo saudoso Nelson Porto, o mais frequente, e por Paulo Afonso Pereira, Pedrinho Sampaio, Suzi Corso, Viviane Afonso, Priscila Coelho e Carla Petruccelli, além deste que vos fala. Entre os frequentadores constantes, vestido com seu paletó de brumas e seus sapatos de musgo, o poeta-maestro Luiz Bacellar. Quando a noite ensaiava estender seu manto sobre a cidade, o espírito dos saraus pousava suavemente sobre a Casa de Ivete Ibiapina e assistíamos, graças às mais recentes tecnologias, às óperas trazidas pelo Cel. Paulo Afonso; e, em CD ou ao vivo,  ouvíamos de Bach a Ernesto Nazaré; de Mozart a Gershwin; de Beethoven a Arnaldo Rebello, de Wagner a Pedro Amorim, de Stravinsky a Lindalva Cruz.
Querida Ivete: você recebeu, ao longo de sua carreira de mestra e de artista, dezenas de homenagensvotos de louvor, de congratulações, de aplauso, diplomas, medalhas, placas. Seu nome está no hall da fama do nosso glorioso Teatro Amazonas, onde você tantas vezes brilhou, especialmente por intermédio de seus alunos. A medalha que você está recebendo hoje não é melhor nem mais sincera que as outras. E você a está recebendo não apenas porque gostamos imensamente de você. A Medalha do Mérito Cultural Péricles Moraes está lhe sendo imposta porque você é merecedora dela. Aceite-a como uma honra para nós, que a concedemos.




[1] O romancista e acadêmico Márcio Souza foi aluno de Ivete no Jardim da Infância, no Princesa Isabel. Os acadêmicos Narciso Lobo e Carmen Nóvoa também foram alunos de Ivete: Narciso, de piano, e Carmen, no colégio Santa Doroteia.