Amigos do Fingidor

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Lábios que beijei 20



Zemaria Pinto
Fátima


Durante duas décadas, Fátima foi a mulher mais linda que passou por minha vida. À época, Fátima só tinha paralelo em Ingrid Bergman, ninguém menos. O corpo adolescendo, indefinido, Fátima era sobretudo o rosto mais sublime que eu vira – e ainda por cima, em tecnicolor e 3D. Dentes fortes, cabelos lisos, castanhos, lábios rubros, a voz com uma modulação ligeiramente grave, a pele branca queimada pelo sol do equador, um biótipo estrangeiro, cearense, perdido nas imensidões da Amazônia. Fiz planos com Fátima, para um futuro que então nos parecia distante. A vida, contudo, foi mais rápida e nos separou, mas não me apagou a lembrança do seu semblante iluminado – olhos, boca, o sorriso pleno e o jeito autoritário de falar, mesmo quando queria ser carinhosa. Durante muito tempo, Fátima foi meu supremo arquétipo de beleza, até que outro mito tomasse conta de meus devaneios. Mas esta é uma outra história.