Zemaria Pinto
Fátima
Durante duas décadas,
Fátima foi a mulher mais linda que passou por minha vida. À época, Fátima só
tinha paralelo em Ingrid Bergman, ninguém menos. O corpo adolescendo,
indefinido, Fátima era sobretudo o rosto mais sublime que eu vira – e ainda por
cima, em tecnicolor e 3D. Dentes fortes, cabelos lisos, castanhos, lábios
rubros, a voz com uma modulação ligeiramente grave, a pele branca queimada pelo
sol do equador, um biótipo estrangeiro, cearense, perdido nas imensidões da
Amazônia. Fiz planos com Fátima, para um futuro que então nos parecia distante.
A vida, contudo, foi mais rápida e nos separou, mas não me apagou a lembrança
do seu semblante iluminado – olhos, boca, o sorriso pleno e o jeito autoritário
de falar, mesmo quando queria ser carinhosa. Durante muito tempo, Fátima foi
meu supremo arquétipo de beleza, até que outro mito tomasse conta de meus
devaneios. Mas esta é uma outra história.