Amigos do Fingidor

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Homeopatia



João Bosco Botelho

         Os sistemas de saúde dos países ocidentais têm estimulado, nos últimos anos, o uso de práticas terapêuticas alternativas. Entre as opções, a homeopatia mantém a preferência.
         Os princípios que regem a homeopatia foram teorizados por Christian Friedrich Samuel Hahnemann (1755-1843). Ao traduzir a obra  As leituras da Matéria Médica de Cullen, Hahnemann atentou à descrição dos efeitos da China officinalis ou Casca do Peru, planta usada pelos indígenas para tratamento do paludismo ou malária. Na mesma página, anotou critica ao autor do livro que defendia a ação terapêutica da quina associada ao sabor amargo. Após ingerir a quina, sentiu os mesmos sintomas dos doentes com malária.
         Hahnemann teorizou que não era correto considerar que, por ser amarga, a quina curasse a malária, mas em razão de causar efeitos semelhantes aos da doença, se tomada por alguém saudável. Esse pressuposto gerou o Princípio da Semelhança ou similia similibus curantur (semelhante se cura pelo semelhante).
         Naquela época, a medicina estava fortemente atada à influência cartesiana: o corpo aceito como grande máquina, onde as doenças seriam desajustes nas engrenagens. Desta forma, se o paciente tinha febre, o remédio era a sangria, que deveria reverter o quadro após a saída do veneno interno. Contudo, o mais dramático: a sangria só era interrompida quando a pele doente estava "pálida como a porcelana chinesa".
A questão da eficácia dos remédios homeopáticos tem sido retomada de tempos em tempos. Nos anos oitenta, no Governo Miterrand, na França, a pesquisa coordenada pelo epidemiologista Daniel Swartz recebeu destaque mundial, sendo publicada na respeitada revista inglesa The Lancet.
Os testes clínicos foram realizados em treze hospitais, na França, utilizando as substâncias Opium e Raphanus, para estimular o metabolismo intestinal após diferentes formas de cirurgias no abdome. Após a análise dos resultados, os pesquisadores concluíram que não houve diferença significativa entre os grupos estudados, isto é, os pacientes que ingeriram o placebo (substância sem qualquer efeito, como um comprimido de açúcar) e o remédio homeopático; os dois grupos recuperaram o funcionamento intestinal em médias iguais após as cirurgias.
         Outra experiência clínica, realizada em São Paulo, coordenada pelo Prof. Carlini, na Escola Paulista de Medicina, realizou o estudo comparativo duplo cego de pacientes com insônia. O resultado foi igualmente frustrante: não ocorreram diferenças na indução do sono nos dois grupos estudados.
         A homeopatia foi introduzida no Brasil, em 1840, pelo comerciante francês Benoit Mure, discípulo de Hahnemann. A disputa entre a alopatia e a homeopatia, de certa forma, foi marcada pela conquista do mercado consumidor. Com avanços e recuos a homeopatia se firmou gradativamente ate o reconhecimento pelo CFM, em 1980, e pela Previdência Social em 1985.
         E inegável que existem descaminhos da prática médica alopática. O mercantilismo, sob a égide da propaganda, acoplada ao fantástico aparelho médico-hospitalar, tendem a separar o médico do objeto da sua prática – o doente – com enorme despesa desnecessária, aproximando a Medicina do grande comércio.

         Mesmo assim, em comparação aos anos 1980, especialmente na França, quando as farmácias homeopáticas se multiplicaram, com os doentes temerosos pela agressividade de alguns fármacos alopáticos, nos dias atuais, ocorreu a desaceleração do encanto pela homeopatia.