Amigos do Fingidor

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Lábios que beijei 46


Zemaria Pinto

Madalena e Conceição



Minha querida amiga Nana divertia-se a valer quando eu lembrava a história de Madalena e Conceição, duas belíssimas moças que alumiaram minha imaginação de menino. Elas eram o paradigma da elegância feminina caminhando por aquelas ruas de barro até o asfalto, onde passavam coletivos, praças e caronas. Madalena, branca, o cabelo negro chanel, lábios finos, caminhava com vagar, em estado de permanente meditação. Conceição, a tez de bronze, os louros cabelos curtos mas altos, lábios carnudos, parecia sempre apressada. Se as duas passavam juntas, caminhava à frente, parando de vez em quando. Quando as via adivinhava o perfume que delas emanava, como de um jardim no inverno. Sonhei muito com Madalena e Conceição – dormindo e acordado, poluções e orações sacrílegas de Onan. Nas minhas fantasias, reunia as duas e as submetia à minha luxúria juvenil. – E o que você pensava que elas eram? Putas, claro! A gargalhada de Nana ecoava por toda a orla de Parintins, onde nos encontráramos; eu, em missão do banco; ela, em projetos especiais de educação. Madalena era professora de uma escola tradicional e severa, enquanto Conceição – numa época em que as mulheres só podiam ser professoras, freiras ou donas de casa – trabalhava em um banco estatal. Nana estudara com as duas primas e mantivera desde então a amizade. A fantasia só foi desfeita mais de 30 anos depois. Melhor dizendo, esclarecida; porque ainda hoje sinto o perfume de Madalena e Conceição, o sedoso de suas peles, o frutado de seus lábios, a música de seus sussurros e a docilidade da submissão de ambas à concupiscência do fauno moleque.