Pedro Lucas Lindoso
Minha netinha Maria Luísa
ainda não completou dois meses. Mas já temos um “papo vovô”. Uma bebezinha
assim ainda não fala, mas nada impede que possamos conversar. Não falta
assunto: quando falei sobre o coelho da páscoa e os ovos de chocolate, por
exemplo, ela sorriu. Dizem que é reflexo, porque ela é uma bebezinha, mas eu
acho que foi sorriso mesmo.
Não sou especialista, mas como
licenciado em Letras, estudei sobre aquisição de linguagem. Há muitas pesquisas
sobre como bebês aprendem a falar. Segundo estudos recentes, uma criança como
Maria Luísa, ao chegar aos três anos de vida, já terá escutado 30 milhões de
palavras a mais que uma criança carente, de pais analfabetos.
As avós de Maria Luísa também
gostam de conversar com ela. A charmosa bisavó Neila, além de exímia praticante
de dança de salão, adora papear com Maria Luísa. Nossa netinha ouve muitas
palavras de encorajamento e de afeto. E quando ela começar a falar, vamos
aguardar respostas deliciosas de nossas perguntas que serão interativas e
cheias de afeição.
Linguistas que pesquisam sobre
aquisição da fala dizem que é lamentável, mas há crianças que só ouvem frases
como ”cala a boca” e “fica quieta”. Infelizmente, essas crianças não terão o
desenvolvimento linguístico de Maria Luísa. As crianças necessitam de grande
quantidade de palavras conhecidas para juntá-las umas com as outras. Se nós
pensamos com palavras, como disse Wittgenstein, quem não sabe usar as palavras
não pode pensar bem.
Temos muitos temas
interessantes para tratar com Maria Luísa: além da Páscoa, do Natal e do papai Noel,
falaremos sobre as lendas amazônicas, os animais e árvores da floresta, os
passarinhos, os famosos mamíferos dos rios de nossa terra, como os botos e o
peixe-boi. Evitarei falar do curupira, por ser assustador e traquina.
As músicas de ninar e as brasileiríssimas
cantigas de roda musicadas e coletadas por Villa Lobos são recursos
inestimáveis.
Apesar de desafinado, na
última vez que peguei Maria Luísa no colo cantei, bem baixinho, a música do
coelhinho da páscoa. E ela sorriu novamente.
Fiz até uma paródia. Sabem
aquela música da dupla Zezé di Camargo e Luciano – É o amor? Pois é.
É o vovôooo... não vou negar...
E Maria Luísa voltou a sorrir.