João Bosco Botelho
A Medicina continua
desconhecendo em qual dimensão da matéria o normal se transforma em doença, se
é que existe normal e doença como compreendemos hoje.
Sem dúvida, as buscas das
origens das doenças se dirigem às menores dimensões da matéria. Hoje, esse
parâmetro está nas moléculas. Numa célula existem milhões de moléculas, uma
delas, o DNA, no núcleo celular, é responsável pelas características genéticas
dos seres vivos.
As bactérias têm a dimensão
celular; os vírus, a molecular!
A complexidade da origem das
doenças aumenta na certeza de cada molécula conter incontáveis átomos e
partículas subatômicas, tornando claro que a origem das doenças não termina e
nem começa na molécula: está em dimensões menores!
Eu penso que será possível,
no futuro, procurar a arqueologia da doença na caoslogia, isto é, passando da
molécula ao átomo, como um caminho de mudança dos saberes em torno da doença de
"coisa em si" (no sentido kantiano) para "coisa para nós".
O caos está presente na
natureza e se manifesta quando um objeto é submetido ao efeito com mais de uma
força criando situações impossíveis de gerenciar com os atuais conhecimentos.
Os modelos teóricos do caos
podem estar na previsão do próximo movimento da folha se movendo ao sabor da
correnteza do rio, no aparecimento da primeira célula cancerosa, no destino da
bactéria que sobrevive na corrente sanguínea, nas fibrilações cardíacas no
infarto do miocárdio e até nas previsões climáticas. Não temos como prever o
que poderá ocorrer à folha, à célula cancerosa, à bactéria, ao músculo cardíaco
e se terá ou não tempestade em certo lugar, em determinado momento, mesmo
utilizando os mais modernos recursos tecnológicos.
O estudo do caos e a sua
relação com os fenômenos da vida não é tão recente. O matemático francês
Henri-Poincaré (1854-1912) demonstrou a existência da instabilidade mesmo em
sistemas simples. Esse cientista ficou conhecido pela crítica à ciência, onde
as teorias científicas traduziriam unicamente a arbitrariedade da razão com o
objetivo de tornar inteligível um conjunto de fatos observados.
A matemática computadorizada
revolucionou a ideia da exclusividade do espaço tridimensional (o mesmo que
legitima a doença celular e os tratamentos utilizados pela medicina de hoje ) e
tornou viável trabalhar em muitos espaços imagináveis.
Em 1977, o matemático
francês Mandelbrot propôs nova modalidade para quantificar as irregularidades
na natureza – fractais – capazes de conter formas ainda mais irregulares e
complexas. Renomados cientistas, sob o enfoque da geometria de Mandelbrot,
demonstraram existir incrível semelhança entre o contorno de uma ilha e os
delicados meandros percorridos pelas artérias e veias do corpo humano. A
estranha simetria sugere que a natureza emprega leis matemáticas ainda não
completamente esclarecidas.
A mecânica quântica proposta
na década de vinte pelos cientistas Werner Heisemberg, Erwin Schrodinger e Paul
Dirac, em parte fundamentada no Princípio da Incerteza de Heisemberg, mostrou
ser impossível prever um único resultado à uma observação, introduzindo o
elemento de impossibilidade ou causalidade na ciência.
A incerteza passou a ser uma
propriedade essencial da matéria!
Ao utilizarmos a caoslogia e
a incerteza para decompor a matéria orgânica nasce a certeza do quanto a
ciência está longe do desvendar em qual dimensão da matéria o normal se
transforma em doença ou se existe o normal e a doença.