Amigos do Fingidor

sexta-feira, 6 de maio de 2016

exercício nº 14



          Zemaria Pinto

A cidade anoitece os seus desígnios         
sobre as hordas de selvagens andarilhos,
murmurando gritos sob o burburinho
dos inúteis, dos descrentes e dos bêbados.

A cidade, com seus círculos vorazes
de granizo e fogo e gelo e sangue e serpes:
a cidade-precipício e suas sendas,
suas sombras, seus pudores, seus pecados.

Sob a luz difusa revejo Francesca,
fazendo strip-tease à música do vento.        
Outros tantos corpos nus por nós passeiam
lágrimas, canções, sussurros e gemidos.

Quedo-me em silêncio ao pé da Poesia,
embriagado de desejo e agonia.