Amigos do Fingidor

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A Bandeira da Cidadania


David Almeida


Assim como vi essa bandeira na popa de um barquinho, às margens plácidas do rio Andirá, eu vejo o povo brasileiro, que busca aos trancos e barrancos sobreviver; ficar de pé e mostrar a sua raça, a sua força de viver caminhando sempre, contra tudo e todos desafiando até a morte.
Foto: David Almeida.


Essa é a bandeira da cidadania, tal qual a maioria dos habitantes desse País, que dizem ser abençoado por deus e bonito por natureza. É uma cidadania improvisada, aprovada e liberada pelo “Ministério do Jeitinho Brasileiro” (MJB), criado pelo povo, por livre e espontânea pressão, em busca da sobrevivência. Tipo assim: quando não se tem picanha para o churrasco, alivia-se a fome com churrasquinho de gato ou qualquer coisa que preencha o eterno vazio do estômago.  

Envolto em uma sociedade imensuravelmente injusta, o cidadão brasileiro ainda levanta orgulhosamente, a sua bandeira da cidadania, ainda que rasgada, esfarrapada, desbotada, mas tremulando ao vento; impoluta, heróica, impávida, colossal, sob o céu dessa pátria varonil.

Custa caro ser cidadão, nesse País, sim, senhor! Mas, a bandeira da cidadania, idolatrada, vívida! Resiste ao tempo imposto pela mão de quem nunca sentiu, e nem vai sentir, a brisa acariciar a vida do seu tempo, porque o tempo verdadeiro da vida não é fabricado, não tem preço, portanto, não é um produto, e o seu tempo de validade é uma consequência.

Essa Bandeira da Cidadania é, realmente, um símbolo de igualdade, porque representa verdadeiramente a maioria da nossa gente. A nossa gente, que, em busca de dias melhores, ajudou na construção daquela estrada; suou na edificação daquele edifício; tomou umas e outras na inauguração da ponte que cruzou o rio; enche a igreja na missa aos domingos; elegeu aquele político que ficou rico da noite pro dia, e às vezes chega em casa, não tem o que comer. Mas o orgulho de ser brasileiro está ali, estampado na sua Bandeira da Cidadania, mesmo avariada, já sem as estrelas, sem ordem e nem progresso, com suas cores já desbotadas, sem quase nada, mas representando tudo. O povo é feliz de vê-la desfraldada, balançando ao vento, mostrando que apesar das dificuldades, a vida é bela, e viver a vida é preciso.