David Almeida
Assim como vi essa bandeira na popa de
um barquinho, às margens plácidas do rio Andirá, eu vejo o povo brasileiro, que
busca aos trancos e barrancos sobreviver; ficar de pé e mostrar a sua raça, a
sua força de viver caminhando sempre, contra tudo e todos desafiando até a
morte.
Foto: David Almeida. |
Essa é a bandeira da cidadania, tal qual
a maioria dos habitantes desse País, que dizem ser abençoado por deus e bonito
por natureza. É uma cidadania improvisada, aprovada e liberada pelo “Ministério
do Jeitinho Brasileiro” (MJB), criado pelo povo, por livre e espontânea pressão,
em busca da sobrevivência. Tipo assim: quando não se tem picanha para o
churrasco, alivia-se a fome com churrasquinho de gato ou qualquer coisa que
preencha o eterno vazio do estômago.
Envolto em uma sociedade imensuravelmente
injusta, o cidadão brasileiro ainda levanta orgulhosamente, a sua bandeira da
cidadania, ainda que rasgada, esfarrapada, desbotada, mas tremulando ao vento;
impoluta, heróica, impávida, colossal, sob o céu dessa pátria varonil.
Custa caro ser cidadão, nesse País, sim,
senhor! Mas, a bandeira da cidadania, idolatrada, vívida! Resiste ao tempo
imposto pela mão de quem nunca sentiu, e nem vai sentir, a brisa acariciar a
vida do seu tempo, porque o tempo verdadeiro da vida não é fabricado, não tem
preço, portanto, não é um produto, e o seu tempo de validade é uma consequência.
Essa Bandeira da Cidadania é, realmente,
um símbolo de igualdade, porque representa verdadeiramente a maioria da nossa
gente. A nossa gente, que, em busca de dias melhores, ajudou na construção
daquela estrada; suou na edificação daquele edifício; tomou umas e outras na
inauguração da ponte que cruzou o rio; enche a igreja na missa aos domingos;
elegeu aquele político que ficou rico da noite pro dia, e às vezes chega em
casa, não tem o que comer. Mas o orgulho de ser brasileiro está ali, estampado
na sua Bandeira da Cidadania, mesmo avariada, já sem as estrelas, sem ordem e
nem progresso, com suas cores já desbotadas, sem quase nada, mas representando
tudo. O povo é feliz de vê-la desfraldada, balançando ao vento, mostrando que
apesar das dificuldades, a vida é bela, e viver a vida é preciso.