Amigos do Fingidor

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Curso de Arte Poética

Jorge Tufic
 
 
CANTO REAL - Composição poética de FORMA FIXA, certamente oriunda da BALADA, o chant royal francês consta de cinco ESTROFES  e um ENVIO (às vezes apresentado como OFERTA), tendo cada estrofe normalmente onze VERSOS, cinco ou seis o ENVIO; as ESTROFES são UNÍSSONAS, isto é, rimam todas segundo o mesmo esquema, parcialmente repetido no ENVIO, feito de acordo com a parte final delas. Tanto nas ESTROFES como no ENVIO, o último VERSO é sempre o mesmo, a exemplo do que sucede na BALADA (“PEQUENO DICIONÁRIO DE ARTE POÉTICA”, Geir Campos, idem). Só que não pudemos aproveitar, neste lance, o “Canto Real do poeta””, do “Livro Bom”, de Goulart de Andrade, transformado, porém, numa paródia idealizada por um grupo de “alunos”, sob o título “Balada Perdida”:
 

Na sarjeta de um velho povoado,
há um pobre lavrador fitando o céu:
mais parece um rochedo desabado,
ao mundo opondo o triste fardo seu!

Tenta erguer-se, não pode; é fantasia
pensar que alguém lhe ajude, e desafia
ao próprio Deus, com nojo e desamor...
Dá-lhe ódio, inclusive, o fraudador
da Previdência-mãe da Sinecura,
porém, desiludido, lavra a dor,
antes que baixe logo à cova escura.

Imagina, contudo, deslumbrado,
ser feliz de repente, ter chapéu
novo, roupa nova, e assim, casado
ao sonho azul de simples tabaréu,
vibrar, de passarinho, à luz do dia,
sentir o gozo, inflar-se de alegria,
lutar pela justiça e em seu louvor,
tornar-se da miséria um vingador,
indo além dos limites da loucura...
Porém, dorme de vez o Campeador,
antes que baixe logo à cova escura!

etc. etc. etc.

OFERTA

Pobre, que tanto gastas teu ardor
nesse delírio desesperador,
pega em vez disso em armas; e na dura
competição, redime a tua dor,
antes que baixe logo à cova escura!