Amigos do Fingidor

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

O deus dos políticos e o deus dos pobres

David Almeida

Fazendo uma comparação e analisando a fé, a dedicação e o respeito que o povo tem pelo seu Deus – e quase nada recebe em troca, a não ser a sua pobre existência –, tive a certeza de que quanto mais o povo reza, ora, mais difícil a vida fica; mais vulnerável ele se torna aos aproveitadores de plantão, que adoram vê-lo na miséria, enfraquecido por um sistema que o conduz ao estado de inércia.

A fome e as doenças se alastram cada vez mais num mundo globalizado, com a maioria de miseráveis, onde a fé veiculada pelas “religiões” nos meios de comunicação ultrapassa fronteiras, prometendo aos fiéis a salvação e consequentemente o “paraíso”. As procissões se arrastam serpenteando nas ruas, com centenas de pessoas carregando pedras na cabeça, cruzes, velas... Descalços ou de joelhos, pagando suas promessas, numa demonstração de que não mentem e são tementes, fiéis ao seu Deus e que estão agradecidos pela “graça” alcançada. Nas igrejas ou nos templos evangélicos, as missas, novenas, os cultos – ministrados pelos padres ou pastores, através das orações e dos cânticos de louvação – buscam o conforto espiritual para amenizar seus sofrimentos materiais, numa sociedade onde o paraíso esperado fica só nas promessas dos políticos quando querem se eleger.

Na contramão dessa fé, chego à conclusão que o “deus dos políticos” é mais forte e poderoso que o “deus dos pobres”. Com raras exceções, eis que permite que roubem, mintam, estuprem, matem... Enriqueçam ilicitamente, em apenas um mandato e ainda gozem de extremo prestígio. Os políticos são imunes, intocáveis e às vezes mal sabem ler, mas são protegidos por seu deus, que lhes permite fazer da terra o seu paraíso e o inferno para o povo. Historicamente, a religião e a política sempre andaram lado a lado tornando-se um mal avassalador, poderoso, contra o povo, causando a tão falada desigualdade social.

Ora! Como dizer que Deus é para todos? Não! Não é para todos. Ou então, tem mais de um. Um com mais poder e outro com menos. Como explicar essa diferença? Ou será que o Deus dos pobres por serem tantos; milhões e milhões nesse planeta ainda azul, a ajuda vai enfraquecendo até chegar ao último? Então só assim podemos provar que existe outro Deus: “o Deus dos políticos”! E é mais poderoso; mais competente, trata bem os seus discípulos, não os deixa nunca desamparados, cuida para que estejam sempre por cima da carne seca, amém! Mesmo que eles sejam corruptos, sanguessugas e recebam “mensalão”. E quando são pegos em alguma “falcatruazinha de nada”, não podem ser presos como cidadão comum. Tem fórum especial. Aí eu rolo, rio, rumino e me rendo. Realmente, é mais poderoso “O Deus dos políticos”.