David Almeida
Fazendo
uma comparação e analisando a fé, a dedicação e o respeito que o povo tem pelo
seu Deus – e quase nada recebe em troca, a não ser a sua pobre existência –,
tive a certeza de que quanto mais o povo reza, ora, mais difícil a vida fica;
mais vulnerável ele se torna aos aproveitadores de plantão, que adoram vê-lo na
miséria, enfraquecido por um sistema que o conduz ao estado de inércia.
A
fome e as doenças se alastram cada vez mais num mundo globalizado, com a
maioria de miseráveis, onde a fé veiculada pelas “religiões” nos meios de
comunicação ultrapassa fronteiras, prometendo aos fiéis a salvação e
consequentemente o “paraíso”. As procissões se arrastam serpenteando nas ruas,
com centenas de pessoas carregando pedras na cabeça, cruzes, velas... Descalços
ou de joelhos, pagando suas promessas, numa demonstração de que não mentem e
são tementes, fiéis ao seu Deus e que estão agradecidos pela “graça” alcançada.
Nas igrejas ou nos templos evangélicos, as missas, novenas, os cultos –
ministrados pelos padres ou pastores, através das orações e dos cânticos de
louvação – buscam o conforto espiritual para amenizar seus sofrimentos
materiais, numa sociedade onde o paraíso esperado fica só nas promessas dos
políticos quando querem se eleger.
Na
contramão dessa fé, chego à conclusão que o “deus dos políticos” é mais forte e
poderoso que o “deus dos pobres”. Com raras exceções, eis que permite que
roubem, mintam, estuprem, matem... Enriqueçam ilicitamente, em apenas um mandato
e ainda gozem de extremo prestígio. Os políticos são imunes, intocáveis e às
vezes mal sabem ler, mas são protegidos por seu deus, que lhes permite fazer da
terra o seu paraíso e o inferno para o povo. Historicamente, a religião e a
política sempre andaram lado a lado tornando-se um mal avassalador, poderoso,
contra o povo, causando a tão falada desigualdade social.
Ora!
Como dizer que Deus é para todos? Não! Não é para todos. Ou então, tem mais de
um. Um com mais poder e outro com menos. Como explicar essa diferença? Ou será
que o Deus dos pobres por serem tantos; milhões e milhões nesse planeta ainda
azul, a ajuda vai enfraquecendo até chegar ao último? Então só assim podemos provar
que existe outro Deus: “o Deus dos políticos”! E é mais poderoso; mais
competente, trata bem os seus discípulos, não os deixa nunca desamparados,
cuida para que estejam sempre por cima da carne seca, amém! Mesmo que eles
sejam corruptos, sanguessugas e recebam “mensalão”. E quando são pegos em
alguma “falcatruazinha de nada”, não podem ser presos como cidadão comum. Tem
fórum especial. Aí eu rolo, rio, rumino e me rendo. Realmente, é mais poderoso
“O Deus dos políticos”.