Amigos do Fingidor

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Curso de Arte Poética

Jorge Tufic


                   Segundo a “retórica tradicional”, há tipos esquemáticos de poemas que o inglês Herbert Read considera “formas abstratas”, em comparação às “formas orgânicas” ditadas pelas necessidades expressivas. Os tipos mais comuns de formas fixas são a Balada, o Canto Real, a Sextina, o Triolé e o Soneto, havendo ainda algumas que se podem considerar semifixas ou estróficas, como o Pantum, a Terça-Rima, a Vilanela e outras (“Dicionário de Arte Poética”, Geir campos, Conquista, s/d). As formas fixas: 

                   BALADA – De origem popular, ligada ao canto e à dança, até o século XV a Balada serviria como simples peça de declamação, evoluindo, a partir daí, para a “balada literária” de Villon, Wordsworth, Oscar Wilde, Coleridge e outros. Há, portanto, uma popular, ESTÍQUICA, ou seja, livre, e uma cortês, obediente à forma fixa ou à estrofação regular: três estrofes e um envio, “tendo as primeiras tantos VERSOS quantas forem as SÍLABAS de cada VERSO e o ENVIO a metade desse número. Tanto as ESTROFES quanto o ENVIO repetem, no fim, o mesmo VERSO. O esquema uníssono de RIMAS varia conforme a extensão estrófica” (“Dicionário de Arte Poética”, Geir campos, idem). O poeta Sílvio Roberto de Oliveira (Pernambuco) compôs e editou um livro inteiro de baladas (“Terrabalada”), encadeando sempre o mesmo tema através de múltiplos recursos poéticos de montagem, simplificação e modernização dessa forma. Tiramos dele “casabalada”:
 

Ave casa,
ser pernalta,
tempo atrasa,
tudo falta,
pau escora,
vento agita,
medo mora:
palafita
mas, sem asa,
faz que salta
da água rasa
na ribalta,
que ela ignora,
mas imita,
mangue afora:
palafita.

Luz de brasa,
febre alta,
sol que arrasa
quem se exalta,
quando chora,
quando grita,
voz que implora:
palafita. 

Quem te explora
não visita
Vida-espora:
palafita. 

Do mesmo autor, “balada da noite lama”:

A noite está no chão.
Molhada, diluída.
Pastosa espessa trama
concentrada, de argila.
Caiu das nebulosas,
retraço de infinito.
Agora é terra morta,
parada, apodrecida. 

De rodear o mundo
e de assistir, passiva,
aos sons do seu rumo
por serras e por ilhas,
prendeu-se nas escarpas
corais dos arrecifes,
e se estendeu, farrapos,
na lama anoitecida. 

A noite está deitada
na cama desse rio,
no forro de retalhos
das restingas baldias,
borrando mãos e pernas
de quem lhe busca os filhos
pra distrair a treva
da fome do seu dia.


OFERTA


A noite está no mangue
por onde (inversa) abisma.
No firmamento lama,
constelação vazia.