David
Almeida
Andando nas ruas do centro
da nossa cidade, mais especificamente na Sete de Setembro, Marechal Deodoro, Eduardo
Ribeiro, pude perceber a poluição visual e sonora; o mau cheiro de urina e
fezes; o estresse se materializando nas ruas. Um “vira e mexe” de deixar
qualquer indivíduo doido e ir direto para o hospício. E eu me perguntei: onde
está você “Paris dos Trópicos”, iluminada pela Bela Época (Belle Époque), que o “Berinho” tenta resgatar a todo custo?
Meu olhar se alongou pelos
toldos das barracas, e tentei me responder: talvez sob os pés das bancas e barracas
dos camelôs, que corroem os becos e beiras das calçadas, tomando de assalto as ruas
da Manaus do século XXI. E tive a certeza: o centro de Manaus é um grande
camelódromo, talvez o maior do mundo.
– Duas caneta por dois real;
vamo lá freguesa, tá barato.
– Olha a calcinha, olha a
calcinha, é promoção, duas por cinco, leve para sua namorada, sua filha ou sua
mãe, é promoção, é promoção, aproveite...
Vende-se de tudo que você
possa imaginar; da comida ao remédio para emagrecer. A procedência é
discutível, lógico. Mas, e daí? A maioria da população, que fomenta esse comércio,
não quer saber se é pirata (que eles chamam de segunda linha) ou original. Se a
comida foi feita dentro dos padrões que a higiene exige ou não. Estão com fome
e sede de tudo, inclusive de um DVD, pirata – que é mais barato - da Maria Gadú,
Restarte ou um filme de sucesso, como Tropa
de Elite II. O povo está “subindo pelas paredes”, como diz a música do
“Príncipe do Brega”, Nunes Filho.
E por aí vai, e entre
gritos, bancas e barracas o povo passa dividindo o espaço que lhe sobra, dessa
chamada “economia alternativa”. E cada vez aparece mais. Os pontos de vendas se
alastram para todos os lados. Principalmente quando uma eleição se aproxima.
Um voto seguro é mais
bancas e barracas oficializadas, nas ruas.
Eu até já vislumbro ao
longo dos “Viadutos do Amazonino, Eduardo, Serafim,” e quem sabe um dia do
Omar, fileiras e fileiras de bancas e barracas vendendo tudo, até os nossos
famosos “Jaraquis e Bodós” pirateados, assados, vindos do Paraguai.
Não sou contra essa “tal
economia alternativa”, claro! O certo é que esse povo que chega a Manaus
precisa trabalhar para ganhar, nem que seja o “pão que o diabo amassou”, a cada
dia que passa. Porque, não sobra nada, da farta mesa dos oportunistas, principalmente
os da política que se fingem de cristão, mas constroem castelos em cima do suor
e sangue de quem trabalha e os elege.
Vamos organizar! Eu sei
que a bronca é alta, mas vamos arranjar um lugar para colocar esse povo que
veio de longe para trabalhar e sustentar suas famílias, de uma forma mais saudável,
digna, tanto para quem vende como para quem compra. Com certeza, o centro de
Manaus ficará bem mais visível. E as ruas do centro, melhor para se curtir do
pouco que restou dos tempos áureos da borracha.
Estive em Fortaleza,
capital do Ceará, para ver se lá também, as ruas estão cheias de bancas e barracas.
Não vi! Existe um “camelódromo” chamado de “Beco da poeira”, o Mercadão, ponto
turístico, onde os camelôs vendem de tudo, e várias feiras em determinados dias
da semana. Umas ficam o dia todo, outras, até oito horas da manhã. Não existem
bancas ou barracas permanentes no centro da cidade. Porque lá não pode!
Mas em Manaus, pode!
Manaus é a terra onde todo mundo chega, “finca o pé, põe a banca e arria a
barraca.”