Tenório Telles
Nascido
no Engenho Pau d’Arco (Cruz do Espírito Santo), Paraíba, em 1884, Augusto dos
Anjos é um escritor ímpar no cenário literário brasileiro. Sua obra tem como
marca definidora a originalidade temática e a provocação no plano da linguagem.
Incorpora ao seu discurso poético palavras consideradas antipoéticas,
assimilando igualmente vocábulos de origem científica.
Sua
poesia é dominada por uma visão angustiada da vida, perpassada por intenso conteúdo
existencial, o que o aproxima da estética expressionista, marcante na cultura
europeia nas primeiras décadas do século passado. Volta-se para temas incomuns
na lírica nacional: dissipação da vida, prostituição, a constituição química
dos homens, a decomposição dos cadáveres e a miséria humana:
Quando eu pego nas carnes
de meu rosto,
Pressinto o fim da
orgânica batalha:
– Olhos que o húmus
necrófago estraçalha,
Diafragmas,
decompondo-se, ao sol-posto...
Influenciado
por uma visão cientificista e certo fatalismo em face do destino humano,
Augusto dos Anjos renega Deus e sucumbe ao pessimismo – não há esperança para o
homem e tudo caminha para o fim irremediável, para a destruição e para o nada. O
poema “Versos íntimos” é expressivo de seus temas e de sua concepção sobre a
condição do ser humano no mundo:
Vês! Ninguém assistiu ao
formidável
Enterro de tua última
quimera.
Somente a Ingratidão –
esta pantera –
Foi tua companheira
inseparável!
Apesar
da crueza de seus versos e da contundência de sua linguagem, Augusto dos Anjos
caiu no gosto do público, tornando-se um dos poetas mais lidos e recitados do
país. Fato que não passou despercebido à percepção poética de Manuel Bandeira
ao se deter sobre sua obra: “Muita gente
houve a quem repugnava a terminologia científica abundante naqueles poemas de
mistura com acentos pungentes de amarga tristeza. Mas foi certamente este
último elemento que tornou apreciada a poesia de Augusto dos Anjos”.
Um
dos livros mais expressivos sobre a poesia de Augusto dos Anjos acaba de ser
escrito pelo escritor Zemaria Pinto: A
invenção do Expressionismo em Augusto dos Anjos. O trabalho é resultado de
sua conclusão de mestrado na Universidade Federal do Amazonas. Trata-se de uma
abordagem crítica de fôlego em que o pesquisador sustenta a tese de que o autor
do Eu é o verdadeiro fundador da
estética expressionista, muito antes de os poetas alemães popularizarem essa
corrente literária, fundada numa visão melancólica e dramática da realidade.
Essa angústia que viria a caracterizar o expressionismo já era recorrente na
produção de Augusto dos Anjos. O livro de Zemaria Pinto é uma das mais
importantes contribuições sobre a presença e o significado poético do escritor
paraibano na literatura nacional.
Os
temas e o antilirismo de Augusto dos Anjos são traços enunciadores da revolução
literária que ocorreria com o Modernismo, a partir de 1922, e teve profundas consequências
na história da lírica contemporânea brasileira.
Obs: O livro A invenção do Expressionismo em Augusto dos Anjos será lançado no
próximo dia 2 de março, às 10h00, na Livraria Valer.