Amigos do Fingidor

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Augusto dos Anjos


 
Tenório Telles

 

         Nascido no Engenho Pau d’Arco (Cruz do Espírito Santo), Paraíba, em 1884, Augusto dos Anjos é um escritor ímpar no cenário literário brasileiro. Sua obra tem como marca definidora a originalidade temática e a provocação no plano da linguagem. Incorpora ao seu discurso poético palavras consideradas antipoéticas, assimilando igualmente vocábulos de origem científica.

         Sua poesia é dominada por uma visão angustiada da vida, perpassada por intenso conteúdo existencial, o que o aproxima da estética expressionista, marcante na cultura europeia nas primeiras décadas do século passado. Volta-se para temas incomuns na lírica nacional: dissipação da vida, prostituição, a constituição química dos homens, a decomposição dos cadáveres e a miséria humana:  

Quando eu pego nas carnes de meu rosto,

Pressinto o fim da orgânica batalha:

– Olhos que o húmus necrófago estraçalha,

Diafragmas, decompondo-se, ao sol-posto... 

         Influenciado por uma visão cientificista e certo fatalismo em face do destino humano, Augusto dos Anjos renega Deus e sucumbe ao pessimismo – não há esperança para o homem e tudo caminha para o fim irremediável, para a destruição e para o nada. O poema “Versos íntimos” é expressivo de seus temas e de sua concepção sobre a condição do ser humano no mundo:  

Vês! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de tua última quimera.

Somente a Ingratidão – esta pantera –

Foi tua companheira inseparável! 

         Apesar da crueza de seus versos e da contundência de sua linguagem, Augusto dos Anjos caiu no gosto do público, tornando-se um dos poetas mais lidos e recitados do país. Fato que não passou despercebido à percepção poética de Manuel Bandeira ao se deter sobre sua obra: “Muita gente houve a quem repugnava a terminologia científica abundante naqueles poemas de mistura com acentos pungentes de amarga tristeza. Mas foi certamente este último elemento que tornou apreciada a poesia de Augusto dos Anjos”.

         Um dos livros mais expressivos sobre a poesia de Augusto dos Anjos acaba de ser escrito pelo escritor Zemaria Pinto: A invenção do Expressionismo em Augusto dos Anjos. O trabalho é resultado de sua conclusão de mestrado na Universidade Federal do Amazonas. Trata-se de uma abordagem crítica de fôlego em que o pesquisador sustenta a tese de que o autor do Eu é o verdadeiro fundador da estética expressionista, muito antes de os poetas alemães popularizarem essa corrente literária, fundada numa visão melancólica e dramática da realidade. Essa angústia que viria a caracterizar o expressionismo já era recorrente na produção de Augusto dos Anjos. O livro de Zemaria Pinto é uma das mais importantes contribuições sobre a presença e o significado poético do escritor paraibano na literatura nacional.

         Os temas e o antilirismo de Augusto dos Anjos são traços enunciadores da revolução literária que ocorreria com o Modernismo, a partir de 1922, e teve profundas consequências na história da lírica contemporânea brasileira.

 

Obs: O livro A invenção do Expressionismo em Augusto dos Anjos será lançado no próximo dia 2 de março, às 10h00, na Livraria Valer.