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1. Por que o título A invenção do
Expressionismo em Augusto dos Anjos?
Na minha dissertação de mestrado, desenvolvi a
ideia de que Augusto dos Anjos criou seus próprios processos expressionistas,
antes dos alemães. É claro que os poetas expressionistas alemães não conheceram
a poesia do paraibano Augusto dos Anjos, mas os pontos de contato são
impressionantes. A única explicação é o Zeitgeist, um conceito
popularizado pelo filósofo alemão Hegel que significa algo como "espírito
de época", isto é, um jovem brasileiro tem uma percepção semelhante a de
um jovem alemão porque todos vivem a mesma época, em condições mais ou menos
parecidas. Hoje, com a instituição da globalização, é muito fácil perceber
isso.
2. Por que Augusto dos Anjos?
Estive no Chile há alguns dias e uma coisa
comoveu-me especialmente: o amor que os chilenos têm por seus poetas. Neruda,
Mistral, Huidobro, entre tantos, são verdadeiramente amados. Neruda é um mito.
Ele é aquilo que os alemães - de novo eles! - chamam de poeta nacional: lá,
Goethe; na Itália, Dante; em Portugal, Camões. Nós não temos um poeta nacional.
O que mais se aproximou desse conceito foi Bilac, um verdadeiro príncipe
durante 50 anos, caiu no ostracismo com a perseguição que lhe moveram os
modernistas. Hoje está esquecido. Augusto dos Anjos é uma história à parte.
Desprezado por parnasianos e simbolistas, foi motivo de piada dos modernistas,
mas é o poeta mais popular do Brasil. O povo brasileiro salvou Augusto dos
Anjos do ostracismo. As sucessivas e hoje incontáveis edições do Eu são
o maior sucesso editorial brasileiro no gênero poesia. Augusto dos Anjos é o
"meu" poeta nacional, por isso o escolhi.
3. Como você definiria o poeta Augusto dos Anjos: simbolista,
parnasiano, pré-modernista ou expressionista?
Embora predominantemente expressionista (quase toda a sua produção entre
1906 e 1914), Augusto dos Anjos tem muitos poemas parnasianos e também
simbolistas. E o seu expressionismo o faz não um pré-modernista, como já o
classificou Alceu de Amoroso Lima, mas o primeiro dos modernistas.
Infelizmente, estes eram vaidosos demais para admitir isso.
Obs: o livro A invenção do Expressionismo em Augusto dos Anjos, de Zemaria Pinto, será lançado no próximo dia 02/03, às 10h, na Livraria Valer.