Amigos do Fingidor

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O pioneiro do Expressionismo

Clique sobre a imagem, para ampliá-la.

1. Por que o título A invenção do Expressionismo em Augusto dos Anjos?

Na minha dissertação de mestrado, desenvolvi a ideia de que Augusto dos Anjos criou seus próprios processos expressionistas, antes dos alemães. É claro que os poetas expressionistas alemães não conheceram a poesia do paraibano Augusto dos Anjos, mas os pontos de contato são impressionantes. A única explicação é o Zeitgeist, um conceito popularizado pelo filósofo alemão Hegel que significa algo como "espírito de época", isto é, um jovem brasileiro tem uma percepção semelhante a de um jovem alemão porque todos vivem a mesma época, em condições mais ou menos parecidas. Hoje, com a instituição da globalização, é muito fácil perceber isso.

2. Por que Augusto dos Anjos?

Estive no Chile há alguns dias e uma coisa comoveu-me especialmente: o amor que os chilenos têm por seus poetas. Neruda, Mistral, Huidobro, entre tantos, são verdadeiramente amados. Neruda é um mito. Ele é aquilo que os alemães - de novo eles! - chamam de poeta nacional: lá, Goethe; na Itália, Dante; em Portugal, Camões. Nós não temos um poeta nacional. O que mais se aproximou desse conceito foi Bilac, um verdadeiro príncipe durante 50 anos, caiu no ostracismo com a perseguição que lhe moveram os modernistas. Hoje está esquecido. Augusto dos Anjos é uma história à parte. Desprezado por parnasianos e simbolistas, foi motivo de piada dos modernistas, mas é o poeta mais popular do Brasil. O povo brasileiro salvou Augusto dos Anjos do ostracismo. As sucessivas e hoje incontáveis edições do Eu são o maior sucesso editorial brasileiro no gênero poesia. Augusto dos Anjos é o "meu" poeta nacional, por isso o escolhi.

3. Como você definiria o poeta Augusto dos Anjos: simbolista, parnasiano, pré-modernista ou expressionista?
 

Embora predominantemente expressionista (quase toda a sua produção entre 1906 e 1914), Augusto dos Anjos tem muitos poemas parnasianos e também simbolistas. E o seu expressionismo o faz não um pré-modernista, como já o classificou Alceu de Amoroso Lima, mas o primeiro dos modernistas. Infelizmente, estes eram vaidosos demais para admitir isso.
 
Obs: o livro A invenção do Expressionismo em Augusto dos Anjos, de Zemaria Pinto, será lançado no próximo dia 02/03, às 10h, na Livraria Valer.