Amigos do Fingidor

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Um brasileiro no Coliseu


Marco Adolfs
 

Depois de sofrer um frio insidioso na França, cheguei a Roma, com um céu azul quase sem nuvens e um calor razoável. Lembrado Brasil. Após deixar minhas tralhas no hotel, que ficava localizado perto da Via Ápia, longe do centro, peguei um ônibus e um metropolitano com o intuito de ir visitar o Coliseu. E foi o que fiz. Para quem ainda não sabe, a construção do Coliseu foi uma jogada política que até hoje é exercida por todos os Estados capitalistas modernos, ou seja a política do “pão e circo”; pois, já naquela época, com o crescimento urbano apareceram também os problemas sociais para Roma. E, como sempre, foi tudo por causa dos “escravos”. A escravidão havia gerado muito desemprego na área rural, gerando os “excluídos” da época. Como milhares de camponeses haviam perdido seus empregos, esta massa de desempregados migrou para as cidades romanas em busca de melhores condições de vida. Receoso de que pudesse acontecer alguma revolta de desempregados, o imperador da ocasião criou a política do “pão e circo”. Esta consistia em oferecer aos romanos alimentação e diversão. Então, quase todos os dias ocorriam lutas de gladiadores nos estádios (sendo o mais importante o Coliseu de Roma), onde também eram distribuídos alimentos (o Bolsa Família da época). Dessa forma, a população carente acabava esquecendo os problemas da vida, diminuindo as chances de revolta.
Pois bem, como lhes disse, estava quente em Roma, naquele dia, e eu, vendo aquela fila enorme de turistas ansiosos por ver o local onde os Cristãos eram jogados aos leões, como diversão governamental, resolvi esperar um pouco, tomando um chope no bar da esquina e olhando para o grande estádio fenomenal. Foi quando, como que por alguma máquina do tempo, um romano (vestido com aquela vestimenta do exército imperial, de sainha, capacete, espada e tudo mais) resolveu sentar-se na mesa ao lado. O pretoriano suava como um desgraçado, após alguma batalha qualquer pela conquista do império. Tomei um susto leve, mas fiquei na minha. Até o momento em que o soldado romano resolveu reclamar da vida em um inglês sofrível (ele pensava que eu fosse americano).
Oh My God! ... These tourists had to be thrown (deveriam ser jogados)  to the lions!
Eu entendi, e ri. Mas falei:
– Excuse me, I'm brazilian (eu sou brasileiro).
– Oh!...Mais um brasileiro maluco! – exclamou o pretoriano. E perguntou: – Me diga uma coisa... O Falcão ainda está vivo!? (ele se referia ao antigo jogador brasileiro, que, em determinada temporada, ajudou o time do Roma a ser campeão).
Conversamos sobre outras coisas. Até que o soldado romano virou-se para mim e disse, rindo:
– Bom, tenho que ir trabalhar; vou jogar alguns brasileiros aos leões!
E desceu, na direção do Coliseu. Por via da dúvida cruel, resolvi não ir, naquele dia, ao Coliseu.