Marco
Adolfs
Depois
de sofrer um frio insidioso na França, cheguei a Roma, com um céu azul quase
sem nuvens e um calor razoável. Lembrado Brasil. Após deixar minhas tralhas no
hotel, que ficava localizado perto da Via Ápia, longe do centro, peguei um
ônibus e um metropolitano com o intuito de ir visitar o Coliseu. E foi o que
fiz. Para quem ainda não sabe, a construção do Coliseu foi uma jogada política
que até hoje é exercida por todos os Estados capitalistas modernos, ou seja a
política do “pão e circo”; pois, já naquela época, com o crescimento urbano
apareceram também os problemas sociais para Roma. E, como sempre, foi tudo por
causa dos “escravos”. A escravidão havia gerado muito desemprego na área rural,
gerando os “excluídos” da época. Como milhares de camponeses haviam perdido
seus empregos, esta massa de desempregados migrou para as cidades romanas em
busca de melhores condições de vida. Receoso de que pudesse acontecer alguma
revolta de desempregados, o imperador da ocasião criou a política do “pão e circo”.
Esta consistia em oferecer aos romanos alimentação e diversão. Então, quase
todos os dias ocorriam lutas de gladiadores nos estádios (sendo o mais importante
o Coliseu de Roma), onde também eram distribuídos alimentos (o Bolsa Família da
época). Dessa forma, a população carente acabava esquecendo os problemas da
vida, diminuindo as chances de revolta.
Pois
bem, como lhes disse, estava quente em Roma, naquele dia, e eu, vendo aquela
fila enorme de turistas ansiosos por ver o local onde os Cristãos eram jogados
aos leões, como diversão governamental, resolvi esperar um pouco, tomando um
chope no bar da esquina e olhando para o grande estádio fenomenal. Foi quando,
como que por alguma máquina do tempo, um romano (vestido com aquela vestimenta
do exército imperial, de sainha, capacete, espada e tudo mais) resolveu
sentar-se na mesa ao lado. O pretoriano suava como um desgraçado, após alguma
batalha qualquer pela conquista do império. Tomei um susto leve, mas fiquei na
minha. Até o momento em que o soldado romano resolveu reclamar da vida em um
inglês sofrível (ele pensava que eu fosse americano).
– Oh My God! ... These
tourists had to be thrown (deveriam ser jogados) to the lions!
Eu
entendi, e ri. Mas falei:
– Excuse me,
I'm brazilian (eu sou brasileiro).
– Oh!...Mais um brasileiro maluco! –
exclamou o pretoriano. E perguntou: – Me diga uma coisa... O Falcão ainda está
vivo!? (ele se referia ao antigo jogador brasileiro, que, em determinada
temporada, ajudou o time do Roma a ser campeão).
Conversamos sobre outras coisas. Até que
o soldado romano virou-se para mim e disse, rindo:
– Bom, tenho que ir trabalhar; vou jogar
alguns brasileiros aos leões!
E desceu, na direção do Coliseu. Por via
da dúvida cruel, resolvi não ir, naquele dia, ao Coliseu.