Prezada Senhora,
Começo por me desculpar
pelo não uso do tratamento ao qual a Senhora, como reitora da Universidade
Federal do Amazonas, está acostumada, por achá-lo desprovido de sentido. Na
sequência, permita-me que me apresente, pois não creio que a senhora saiba quem
eu sou: Zemaria Pinto, ocupante da cadeira 27 da Academia Amazonense de Letras,
desde 2004, 15 livros publicados (entre ensaios literários, poesia, teatro e
literatura infanto-juvenil), analista de sistemas, bacharel em economia,
especialista em Literatura Brasileira e mestre em Estudos Literários – estes
três últimos, títulos obtidos na UFAM, o que enfatizo para mostrar minha
proximidade e meu respeito para com a instituição que a Senhora dirige. Agora,
aos fatos.
No início deste ano,
recebi da direção da AAL um boletim que informava que as inscrições para a
cadeira 21, ocupada pelo escritor Luiz Bacellar até 09 de setembro, aconteceriam entre os
dias 08 de março e 08 de abril. Na última quinta-feira, 21 de fevereiro, entretanto,
soube, por mero descuido do acadêmico que secretariava uma assembléia de rotina
naquela casa, que as referidas inscrições se encerrariam hoje, 25 de fevereiro.
Pedi à mesa um esclarecimento, provocando mal-estar geral, pois ficava claro,
pela minha insatisfação, que eu considerava aquela mudança clandestina mais uma afronta, entre tantas, à memória do meu amigo Bacellar. O esclarecimento foi
singelo: uma decisão da diretoria, que é soberana nesses assuntos. Mas deveria também
ser transparente e não o foi.
O que a Senhora tem a ver
com essas intrigas paroquianas, típicas de uma casa onde a vaidade paira acima
de qualquer virtude? Muito simples. A primeira vez que ouvi a menção ao seu
nome para substituir Bacellar ele ainda agonizava em seu leito de morte. No dia
do enterro, repetiu-se a mesma ladainha, vinda de vários confrades: “a vaga de
Luiz Bacellar é da professora Márcia Perales”. Não sei se a Senhora tem
conhecimento desses fatos. Acredito que não. Mas quando alguém lhe ofereceu
essa eleição, sem sustos, talvez por unanimidade, graças a essa manobra escusa
acima relatada, esqueceu-se que a AAL não é formada só por carneirinhos. Se não
fosse a indiscrição do confrade, professora, hoje a Senhora seria candidata
única, imbatível. Mas não o é.
A Senhora irá enfrentar
dois candidatos. Dois excelentes candidatos escritores. Eu preciso dizer-lhe que essas duas candidaturas,
professora, nasceram na noite de quinta-feira, como uma reação indignada à
manobra escusa. É possível que a Senhora seja eleita com até 36 dos 38 votos admissíveis.
Mas os dois ou mais votos de diferença – dos articuladores das candidaturas avessas, e dos que não se curvarão ao pensamento hegemônico
– vão escancarar a insatisfação que vai aos poucos minando a AAL. Por repudiar manobras
desse tipo, o poeta Thiago de Mello renunciou ao seu título de membro do Silogeu. O Bacellar, que vivia arengando com o Thiago, dizia que a glória suprema
seria ser expulso da Academia.
Para sua reflexão.
Respeitosamente,
Zemaria Pinto