Amigos do Fingidor

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Carta aberta à professora Márcia Perales, candidata à cadeira 21 da Academia Amazonense de Letras

 
 
Prezada Senhora,
 
Começo por me desculpar pelo não uso do tratamento ao qual a Senhora, como reitora da Universidade Federal do Amazonas, está acostumada, por achá-lo desprovido de sentido. Na sequência, permita-me que me apresente, pois não creio que a senhora saiba quem eu sou: Zemaria Pinto, ocupante da cadeira 27 da Academia Amazonense de Letras, desde 2004, 15 livros publicados (entre ensaios literários, poesia, teatro e literatura infanto-juvenil), analista de sistemas, bacharel em economia, especialista em Literatura Brasileira e mestre em Estudos Literários – estes três últimos, títulos obtidos na UFAM, o que enfatizo para mostrar minha proximidade e meu respeito para com a instituição que a Senhora dirige. Agora, aos fatos.
 
No início deste ano, recebi da direção da AAL um boletim que informava que as inscrições para a cadeira 21, ocupada pelo escritor Luiz Bacellar até 09 de setembro, aconteceriam entre os dias 08 de março e 08 de abril. Na última quinta-feira, 21 de fevereiro, entretanto, soube, por mero descuido do acadêmico que secretariava uma assembléia de rotina naquela casa, que as referidas inscrições se encerrariam hoje, 25 de fevereiro. Pedi à mesa um esclarecimento, provocando mal-estar geral, pois ficava claro, pela minha insatisfação, que eu considerava aquela mudança clandestina mais uma afronta, entre tantas, à memória do meu amigo Bacellar. O esclarecimento foi singelo: uma decisão da diretoria, que é soberana nesses assuntos. Mas deveria também ser transparente e não o foi.
 
O que a Senhora tem a ver com essas intrigas paroquianas, típicas de uma casa onde a vaidade paira acima de qualquer virtude? Muito simples. A primeira vez que ouvi a menção ao seu nome para substituir Bacellar ele ainda agonizava em seu leito de morte. No dia do enterro, repetiu-se a mesma ladainha, vinda de vários confrades: “a vaga de Luiz Bacellar é da professora Márcia Perales”. Não sei se a Senhora tem conhecimento desses fatos. Acredito que não. Mas quando alguém lhe ofereceu essa eleição, sem sustos, talvez por unanimidade, graças a essa manobra escusa acima relatada, esqueceu-se que a AAL não é formada só por carneirinhos. Se não fosse a indiscrição do confrade, professora, hoje a Senhora seria candidata única, imbatível. Mas não o é.
 
A Senhora irá enfrentar dois candidatos. Dois excelentes candidatos escritores. Eu preciso dizer-lhe que essas duas candidaturas, professora, nasceram na noite de quinta-feira, como uma reação indignada à manobra escusa. É possível que a Senhora seja eleita com até 36 dos 38 votos admissíveis. Mas os dois ou mais votos de diferença – dos articuladores das candidaturas avessas, e dos que não se curvarão ao pensamento hegemônico – vão escancarar a insatisfação que vai aos poucos minando a AAL. Por repudiar manobras desse tipo, o poeta Thiago de Mello renunciou ao seu título de membro do Silogeu. O Bacellar, que vivia arengando com o Thiago, dizia que a glória suprema seria ser expulso da Academia.
 
Para sua reflexão.
 
Respeitosamente,
 
 
Zemaria Pinto