Amigos do Fingidor

terça-feira, 4 de março de 2014

Bento Santiago, a mim não convenceu




                                                                                                             Tainá Vieira
 

      Bento Santiago – um homem fraco, franzino e de pouca sensibilidade. Quando na adolescência o amor que tinha por Capitu era um amor puro, porém, já se entrevia que o futuro seria cheio de perturbações.  A narração inteira da obra quem sempre está no comando do romance é Capitu, uma mulher forte, que sabe o tempo todo o que quer, praticamente independente, que pensa sempre com os olhos no futuro, sem medo de expressar suas ideias e principalmente sem medo de expor a verdade. Seria então Capitu insensível? Não, Capitu é uma mulher realista, como o autor quisera que a mesma fosse. E Bentinho estaria sempre submisso a ela? Também não, Bentinho é apenas um homem qualquer atrás de uma grande mulher. E também, com esse nome – Bento Santiago, é certo que seria apenas, ainda que envelhecesse, um menino mimado e franzino sempre. 

     Bentinho vivia à espreita pela casa, apenas vivendo, ou melhor, esperando a hora que sua mãe lhe enviasse ao seminário para pagar a promessa que fizera. Bentinho já sabendo do seu destino apenas vivia. Como todo e qualquer burguês. Passava o tempo brincando com sua amiga Capitu, que era sua vizinha. Bentinho pertencia à uma família que tinha posses, este devia ser homem de grande sabedoria, por isso tinha aulas em casa como as aulas de latim com o pároco por exemplo. Ia à missa, fazia visita acompanhando a mãe à casa de parentes e outras pessoas da sociedade.  Ou seja, Bentinho levava a vida como a sociedade exigia. Era filho único, único herdeiro, vivia com a mãe viúva, um tio velho, uma prima velha e um agregado que vivia também para a sociedade, daí o interesse em fazer de Bentinho um homem das leis e não da igreja. Pois bem, Bentinho, era um adolescente que apenas vivia, cumpria seus deveres, era sim, um menino mimado, não pensava no futuro. O futuro que se responsabilizasse por ele.  Mas é certo que também não queria jamais ser padre. Dizia que não possuía vocação. Não possuía vocação ou era fraco demais para seguir a carreira eclesiástica?!    

    Partimos deste principio, uma vez que, a carreira de um sacerdote deveria abdicar de todas as regalias da vida; se Bentinho realmente quisesse ser padre, teria de viver como viveu São Francisco, que abdicou de tudo pela viva cristã. E Bentinho, como já disse, era covarde demais para tal empreendimento. Sem contar que poderia não deixar as asas da mãe tão cedo. Ele, logo nos primeiros dias no seminário sentia muita saudade da mãe, das barras da saia da mãe. Bentinho também era um ser mesquinho e egoísta, visto que isso pode perceber-se na cena da morte de “Manduca” e também quando o mesmo narra sobre as cartas que mandara ao mesmo.  Bento Santiago apenas vivia, tanto que só vivia o que via com seus próprios olhos, ou quando ouvia algo a seu respeito. Brincava tanto com sua amiga, que não era capaz de perceber o amor que surgia da amizade sincera. Bentinho tomou conhecimento de tal fato quando lera a inscrição no muro do quintal se sua vizinha que dizia “Capitolina e Bentinho”, foi daí que houve reboliço dentro de si, penso que a partir desse momento Bentinho sentiu seu coração bater pela primeira vez.  

        Bentinho e Capitu, realmente os oposto se atraem, mas porque isso? Isso vai alem da metafísica, pois Machado não nos deixou explicação alguma. Capitu já nasceu com ar de superioridade, sempre esteve a saber das glorias e dos dissabores de seu destino. Prova disso, enquanto Bentinho ficava se lamentando no seminário com saudade de casa, dela própria, Capitu, empregara-se a cuidar da mãe de Bentinho, de sua amiga Sancha, crescia cada vez mais forte, perdera a mãe, e passara a cuidar do pai e de toda a responsabilidade da casa. Porque Bentinho não contou em detalhes o que Capitu passara durante sua estada no seminário? Porque realmente não teve coragem de fazer, posto que os leitores se comovessem mais com a história dela do que com a sua.   

         Bentinho realmente amava Capitu, mas de um jeito que o amor não era a coisa mais importante para ele e sim a amizade, por isso casou-se com ela, por que queria ter a sua amiga de infância sempre por perto; amava realmente Capitu, entretanto, a condenou, sem uma prova concreta de que ela o tivesse o traído. Sim, pois não há provas realmente. Não há nada que afirme se houve realmente traição. Porém, eis que surge um fato, que não podemos deixar passar em branco. Pode parecer banal aos olhos de quem só pensa em Bentinho e Capitu, em Escobar e traição. Pois bem, no capítulo intitulado “A mão de Sancha”, Bento Santiago, digamos assim, sente algo ao tocar as mãos da esposa do melhor amigo, tanto que passou horas com o olhar e o toque da mão da mesma na cabeça. Ele que, em momento algum, havia olhado para outra mulher, que não fosse a sua Capitu. Não foi então o próprio Bentinho que foi desleal, pois em pensamento desejara a mulher do amigo, e isso ficou claro em um capítulo. Ao contrário da desconfiança que sentiu de sua esposa.  Enfim, quem é verdadeiramente Bento Santiago? Bem, jamais teremos uma resposta definitiva. Tudo o que pensamos ou escrevemos na tentativa de descobrir algo novo, não passará de teoria vã.