Entrevista concedida por Zemaria Pinto à jornalista Suelen Reis, para a revista Valer
Cultural, onde foi publicada, editada, no nº 7, de
out/nov 2013.
5 – Seus livros
“O beija-flor e o gavião”, “O urubu albino” e “A cidade perdida dos
meninos-peixes”, por exemplo, têm a questão regional, mas também mostram uma
preocupação com a formação do ser humano. Fale dessas características de suas
obras.
R: Eu não
acredito na arte pela arte. Eu creio sim que a arte tem uma função social.
Quando eu escrevo ficção – narrativa, lírica ou dramática – eu procuro mesclar
a função primordial da arte, que é o entretenimento, o prazer, com uma reflexão
sobre o estar-no-mundo. Escrever para criança, então, é muito delicado, porque
aquele público ainda está em processo de formação, não sabendo discernir uma
ironia – característica da minha obra adulta – de uma afirmação séria. Por
outro lado, você não tem o direito de ser chato. Em síntese: é necessário
encontrar um equilíbrio de linguagem entre uma base instrumental, repercutindo
o momento histórico e seu entorno geográfico, de maneira utilitária,
influenciando positivamente o pequeno leitor, mas sem perder de vista o caráter
lúdico da literatura. Combinar essas três visões de maneira estética é muito
mais complexo do que se imagina.
6 – Fale um
pouco da sua relação com a leitura. Seus autores e livros preferidos, como a
leitura aconteceu em sua vida?
R: Quem lê nas
entrelinhas, já deve ter percebido algumas das minhas preferências. Vidas Secas foi o primeiro livro que eu
li, já aos 13 anos. Comecei atrasado, reconheço, mas comecei bem... Não vivo
sem reler Graciliano, Rosa, Clarice, Borges, Shakespeare. Na poesia, Drummond,
Cabral, Pessoa, Borges de novo, Cruz e Sousa e Augusto dos Anjos, que me remete
a Baudelaire. Uma coisa que aconteceu comigo e me marcou demais, ali pelos 15
anos, foi a leitura da Divina Comédia,
na tradução de Xavier Pinheiro. Certamente, eu pouco entendi. Mas foi uma
revelação extraordinária. Estas foram, ou melhor, são, leituras de adolescência
que se prolongam ainda hoje, quando me vejo como um leitor mais experimentado e
exigente. Mas das leituras atuais não falarei, senão faltará espaço.
7 - O que o
senhor acha que chama a atenção dos pequenos nos livros atualmente, já que eles
têm um mundo de informações por meio das novas tecnologias?
R: Transito
entre crianças – tenho uma neta de 4 anos – e sei o fascínio que o livro exerce
sobre elas. Ainda não vi e-books para
elas, mas já devem estar sendo produzidos. A criança gosta de fantasia. O livro
proporciona isso a ela – não importa qual o suporte, se de papel, uma tela de
cristal líquido ou coisa que o valha.
8 - Como o
senhor avalia a concorrência da internet e de jogos eletrônicos nos dias
atuais, o livro deve se adequar às mudanças tecnológicas? A internet é aliada
ou vilã no quesito incentivo à leitura, na formação de novos leitores?
R: A evolução
tecnológica é sempre aliada. Depende de como ela é utilizada. O livro, como o
conhecemos, nesse suporte de papel, vai acabar. Não sei quando, sou ruim para
vaticínios, mas vai acabar. Mas, a leitura não. O conhecimento encontrará novos
suportes para ser veiculado. Mais: eu não vejo concorrência. A leitura é um
hábito. O cinema, a televisão, a internet, os jogos eletrônicos concorrem entre
si. O espaço da leitura, para quem adquire o hábito de ler, continuará
preservado. E, por mais que se diga o contrário, alardeando o apocalipse do
livro, o número de leitores no mundo só aumenta, a cada ano. Não é paradoxal
que estejamos a proclamar o fim de algo que está cada vez mais vivo?
9 - Alguma
novidade a caminho? Novos livros?
R: Depois de
três anos trabalhando em A invenção do
Expressionismo em Augusto dos Anjos, minha dissertação de mestrado, lançado
em março, estou desacelerado, mas não consigo parar. Há livros prontos, como Ensaios ligeiros e Drops de pimenta (contos). Um infantil: Viagens na casa do meu avô. E outros em construção: um de ensaios,
sendo finalizado, outro de contos e um de poemas. Ah, e tem umas peças de
teatro, também. Este ano, estreamos duas: Otelo
solo, dirigido pela Nereide Santiago, e Onde
comem 3 comem 6, uma experiência de teatro de rua, dirigida pelo Nonato
Tavares.
10 – Como o
senhor avalia o cenário da literatura infantil regional atualmente?
R: Com otimismo.
Fico feliz em ver a produção vindo à tona, estimulando a velha guarda e
trazendo gente jovem para a linha de frente. Mas continuo implicando com o
termo “regional”. Nós fazemos literatura no Amazonas, para o mundo ler.