Tainá Vieira
Não sei como era a vida das
escritoras Florbela Espanca, Simone de Beauvoir, Clarice Lispector, Cecília
Meireles e outras que admiro. Digo a vida de mulher casada, mãe, dona de casa
ou solteira. Como elas conciliavam o trabalho da escrita com o trabalho de
casa, ou será que elas apenas davam ordens às suas inúmeras criadas que tinham
em seus casarões? Será que não havia um só dia em que essas mulheres não
ficassem a sós em suas casas e iam para cozinha, lavar louça e cozinhar?! Ou
saíam para comer fora? Bem, não sei ao
certo, vou procurar saber um pouco sobre o cotidiano delas. Talvez eu encontre
alguma vida parecida com a minha ou talvez eu jamais seja uma escritora. É que
às vezes passamos por situações difíceis dentro de casa. São pequenos detalhes que na nossa cabeça
tornam-se tempestades horrendas. São coisas da vida, do dia a dia.
Às vezes a pessoa está em
algum lugar qualquer e de repente recebe uma luz, uma ideia genial para
escrever um conto ou um poema. Hoje em dia é possível fazer pequenas anotações
no celular, tablets ou se tiver em mãos papel, a pessoa escreve e deixa para
concluir mais tarde. Deixa para aprimorar mais o trabalho depois. Conheço
algumas pessoas que fazem isso. Segundo essas pessoas é quase normal esse tipo
de coisa. Essas pessoas que recebem iluminação desse tipo afirmam que é bom
aproveitar, pois acreditam que isso só pode ter vindo dos céus e se acham
privilegiadas por receber tal benção. Isso faz acreditar que estão no caminho
certo, ou melhor, isso os leva a crer que são bons escritores como quaisquer
outros que tenham escrito os melhores romances e os melhores poemas da
historia.
Isso acontece com meus
amigos que se intitulam escritores e poetas. Comigo é coisa rara. O dia em que
penso que recebi tal iluminação, eu estava na cozinha com uma pilha de louça
para lavar, o almoço por fazer e a casa para arrumar. Nesse dia a empregada
faltara por algum motivo. A luz ou a
ideia de escrever veio como um raio, o raio que você vai ouvindo aquele som
horrível, que parece que acaba logo, mas na verdade vai cessando lentamente,
assim veio essa luz para mim. E eu tinha que rapidamente tomar uma decisão, ou
corre para a biblioteca e começa a escrever ou permanece na cozinha com seus
afazeres. Eu decidi lavar e secar a
louça, em seguida preparar o meu almoço e depois limpei toda a casa. E só
depois quando tudo estava limpo e arrumado, eu fui à biblioteca para escrever,
fechei os olhos na esperança de receber aquela luz, porém, ela tinha ido com a
mesma rapidez com que a água suja da pia escorre para o esgoto. Foi-se a luz, e
eu fiquei imóvel e frustrada. Fiquei com
ódio de mim mesma por tamanha idiotice, onde já se viu optar por cuidar da casa
a escrever?... Talvez grite em mim a
essência de mulherzinha, de dona de casa, e passe longe a essência de
escritora, talvez seja melhor abandonar a tentativa da escrita, porque sempre
haverá uma pia cheia de louças e o almoço por fazer, sempre haverá tarefas que
exigiam urgência e eficiência e a escrita ficará sempre em segundo plano.
Por isso lembrei-me das
grandes escritoras, pelos seus bons trabalhos escritos, elas jamais trocariam a
sala de escrever pela cozinha. Jamais
cometeriam tal desapontamento para com o ato de escrever. Eu penso isso, penso
que a escrita veio sempre em primeiro plano e não em segundo como para mim.
Talvez eu ainda não tenha pegado jeito, talvez eu não sirva para isso, talvez
eu jamais consiga escrever algo que alguém ache bom. Talvez, tudo para mim é talvez. Na hora em que
recebi a luz na cozinha para escrever, eu disse, vou continuar o meu trabalho e
depois, talvez eu receba novamente. Só
que não veio. Talvez outro dia, se os deuses da escrita tiverem compaixão de
mim, eu receba. Talvez.