Amigos do Fingidor

segunda-feira, 3 de março de 2014

Lábios que beijei 14



Zemaria Pinto
Maria


Maria era pequena de estatura e grande de lábios. Os lábios de Maria eram maiores que seu corpo. Quando andávamos de mãos dadas pelo centro da velha cidade, era como se tivesse em minhas mãos aquela boca, que me atormentava as madrugadas. Mas eu era apenas um brinquedo de Maria, o seu menino, a sua inocente companhia nas missões interestelares nos arredores da Matriz. Um dia, encontrei Maria feita mulher, o corpo pequenino cheio de sutis reentrâncias – e a boca. Pedi-lhe um beijo. Ela negaceou com graça, girando em semicírculo sobre o eixo de suas pernas curtas e grossas. Naquela noite sonhei-me sendo devorado por Maria. Não, pela boca de Maria. A boca mais linda que eu jamais beijei.