Zemaria Pinto
Maria
Maria era pequena de
estatura e grande de lábios. Os lábios de Maria eram maiores que seu corpo.
Quando andávamos de mãos dadas pelo centro da velha cidade, era como se tivesse
em minhas mãos aquela boca, que me atormentava as madrugadas. Mas eu era apenas
um brinquedo de Maria, o seu menino, a sua inocente companhia nas missões
interestelares nos arredores da Matriz. Um dia, encontrei Maria feita mulher, o
corpo pequenino cheio de sutis reentrâncias – e a boca. Pedi-lhe um beijo. Ela
negaceou com graça, girando em semicírculo sobre o eixo de suas pernas curtas e
grossas. Naquela noite sonhei-me sendo devorado por Maria. Não, pela boca de
Maria. A boca mais linda que eu jamais beijei.