Zemaria Pinto
Iraci
Jamais um nome terá
sido tão bem colocado em alguém. Iraci era toda mel. Na boca, nos seios, no
sexo. Iraci foi o meu amor adolescente. Com ela, o sexo era mais que uma
catarse – era um ritual, lento, cheio de aromas e sabores, os corpos se
confundindo e se fundindo, numa metamorfose insana. Inebriando meus sentidos, o
mel que brotava do corpo de Iraci – de cada poro de Iraci. Olhos amendoados,
boca de largo sorriso, ancha de ancas e coxas, os seios fartos, maternais, no
vigor de seus 15 anos, Iraci poderia ter saído de uma página de Alencar, uma
tapuia amazônica. Tenho medo de ser traído pela minha frágil memória: passados
tantos anos, Iraci me parece tão irreal que talvez nem tenha existido, é apenas
fruto da minha imaginação, dos meus melhores sonhos. Pois se tudo foi tão bom,
por que acabou? A última vez que a vi, até suas lágrimas sabiam a mel. Na
verdade, encontrei-a uns 10 anos depois. Magra, sem viço, a pele fosca, os
seios consumidos. Secara o mel de Iraci – e ela poderia adotar outro nome
qualquer. Maria da Graça, por exemplo.