Amigos do Fingidor

segunda-feira, 17 de março de 2014

Lábios que beijei 15



Zemaria Pinto
Iraci


Jamais um nome terá sido tão bem colocado em alguém. Iraci era toda mel. Na boca, nos seios, no sexo. Iraci foi o meu amor adolescente. Com ela, o sexo era mais que uma catarse – era um ritual, lento, cheio de aromas e sabores, os corpos se confundindo e se fundindo, numa metamorfose insana. Inebriando meus sentidos, o mel que brotava do corpo de Iraci – de cada poro de Iraci. Olhos amendoados, boca de largo sorriso, ancha de ancas e coxas, os seios fartos, maternais, no vigor de seus 15 anos, Iraci poderia ter saído de uma página de Alencar, uma tapuia amazônica. Tenho medo de ser traído pela minha frágil memória: passados tantos anos, Iraci me parece tão irreal que talvez nem tenha existido, é apenas fruto da minha imaginação, dos meus melhores sonhos. Pois se tudo foi tão bom, por que acabou? A última vez que a vi, até suas lágrimas sabiam a mel. Na verdade, encontrei-a uns 10 anos depois. Magra, sem viço, a pele fosca, os seios consumidos. Secara o mel de Iraci – e ela poderia adotar outro nome qualquer. Maria da Graça, por exemplo.