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| Autor desconhecido. | 
quarta-feira, 30 de abril de 2014
domingo, 27 de abril de 2014
sábado, 26 de abril de 2014
quinta-feira, 24 de abril de 2014
Medalha do Mérito Cultural Péricles Moraes 2007 – 2/7
Zemaria Pinto
II
A história 
da família  Tadros confunde-se com  a história 
do Amazonas  nos 
últimos  130 anos .
O empresário  José Roberto Tadros, a quem  a Academia 
Amazonense  de Letras 
tem a honra  de homenagear 
nesta noite  na categoria 
mecenato , representa a quarta  geração 
dessa família , cuja 
primeira  iniciativa 
comercial , a Tadros & Cia , remonta  ao
longínquo  1874. 
Advogado, professor ,
cônsul  honorário 
da Grécia, co-autor  do livro  Incentivos 
Fiscais  para   o Progresso 
do Amazonas , membro 
de diversas associações  culturais – entre  elas  o nonagenário  Instituto 
Geográfico  e Histórico 
do Amazonas , José Roberto Tadros
amealhou até  esta data 
mais  de 80 comendas 
(estrangeiras, nacionais  e locais ), nas mais 
diversas áreas , que 
o credenciam como  uma das mais  importantes 
personalidades  do nosso 
Estado . A essas honrarias ,
soma-se hoje  a Medalha 
do Mérito  Cultural Péricles Moraes , como  reconhecimento  ao seu 
trabalho , especialmente 
à frente  do SESC, incentivando a música  popular ,
a dança , as artes 
plásticas , a literatura 
e o teatro .
Mecenas, o fiel  conselheiro 
de Otávio Augusto , preservou para  a posteridade  a imagem  de desinteresse 
no apoio  que 
deu a Virgílio, Horácio, Propércio e Vário . Se é verdade  que  ele  sugeriu a Virgílio o tema 
das Geórgicas, também 
é verdade  que 
não  censurou ou 
interferiu no trabalho  de seus 
protegidos. A liberdade  de criação  está, pois ,
atrelada ao mecenato . Tadros não faz
diferente: delega, gerencia, exige, confia. Ou não seria possível
multiplicar-se em tantos para dar conta dos múltiplos afazeres. Administrar
cultura é administrar egos, muitas vezes explosivos – é preciso pulso firme
para não deixar o interesse individual sobrepor-se ao coletivo. Mas, assim
testemunham aqueles que lhe estão mais próximos, a carapaça esconde uma
sensibilidade refinada e uma visão de futuro privilegiada. Tadros acredita que
todos têm direito e devem ter acesso à arte e à cultura.
Alguns dos projetos  do SESC já 
atravessam décadas , como 
a Feira  de Livros, que 
vai para  a vigésima 
primeira  edição ,
formando leitores  e promovendo a
literatura – e da qual muitos dos aqui presentes, eu inclusive, participamos
ativamente. Um  projeto 
singelo  como 
o Festival  de Calouros 
vai para  sua 
27ª edição , tendo revelado vários  dos talentos 
que  hoje 
brilham nos  palcos 
da cidade . Outros 
deixaram saudade , como 
o Zonarte, que  reunia música , dança , teatro  e artes  plásticas ; e Nosso 
Mercado , que 
teve como  foco 
a revitalização do Mercado  Grande  enquanto 
espaço  cultural. O desfecho ,
com  a Noite 
Tribal  – eu 
estava lá  –, foi inesquecível .
Aliás , há uma tendência 
a transformar  os antigos 
mercados  em 
amostras  da vocação 
cultural de uma cidade , refletindo seus  vários  matizes . O Projeto 
Nosso  Mercado 
passava essa mensagem , que , parece, não 
foi escutada.
Tenho em mãos a Antologia
de Contos do SESC, publicada no final do ano passado. Eis um belo exemplo do
trabalho de Tadros. Conforta-me encontrar nomes conhecidos de ex-alunos, mas,
principalmente, alegra-me vislumbrar naquele pequeno livro o futuro acontecendo:
ali estão, saindo do casulo, alguns dos nossos vindouros companheiros de ofício.
 
Não deixo de registrar  a Galeria 
Moacir Andrade, palco  de incontáveis  exposições .
Aliás , o nosso 
querido  confrade 
Moacir vai ganhar  agora 
do SESC um  Memorial ,
o que  só 
enfatiza a preocupação  de Tadros com  a valorização do artista 
amazonense . O interior 
começa  também 
a ser  contemplado, com 
a restauração  de uma casa  antiga  em  Manacapuru, onde 
funcionam projetos  de cinema , leitura 
e atividades  ligadas 
à música  e ao teatro .
Todos  esses 
projetos  contam com 
o apoio  integral 
e o acompanhamento direto  de José Roberto
Tadros.
Tendo iniciado suas
atividades nos anos 60, o TESC, o Teatro Experimental do SESC, ficou um longo
tempo emudecido, retornando às suas atividades há cinco anos, com o apoio
incondicional de Tadros. Os bons tempos voltaram, com Márcio Souza à frente,
enchendo de criatividade aquele iluminado espaço da Henrique Martins. Aos
balzaquianos A Paixão de Ajuricaba, Dessana Dessana e As Folias do Látex juntaram-se os novos Hamlet, Marx na Zona e Sábados Detonados – irreverentes,
antropofágicos, escrachados, mas sobretudo críticos e independentes.
Música, dança , artes  plásticas , teatro ,
literatura . Essa tem sido a ação 
– discreta , mas 
determinada ; simples ,
mas  ousada 
– de José Roberto Tadros em  favor  da cultura  e
das artes  do nosso 
Estado . A justa 
homenagem  que 
hoje  lhe 
prestamos é um  pedido 
para  que  faça
mais  e mais :
o Amazonas , penhorado, agradece. 
Academia Amazonense de Letras promove 10ª edição da Medalha do Mérito Cultural Péricles Moraes
Nesta
sexta-feira, 25 de abril, às 20h, a Academia Amazonense de Letras estará
promovendo, pelo 10º ano consecutivo, a entrega da Medalha do Mérito Cultural Péricles
Moraes, em homenagem a um de seus fundadores, presidente do sodalício durante
muitos anos, e intelectual de renome nacional.
A
Medalha do Mérito Cultural contempla três áreas: Letras, Artes e Mecenato. Nos
anos anteriores, 27 diversos escritores, artistas, empresários e instituições
foram contemplados com a Medalha, como Milton Hatoum, Astrid Cabral, Coral João
Gomes Júnior, Nivaldo Santiago, Phelippe Daou, Ivete Ibiapina, Oscar Ramos,
Instituto Dirson Costa, entre outros.  
Este
ano, a Academia Amazonense de Letras concederá a comenda a:
LETRAS
– Alcides Werk, in memoriam. Um dos mais expressivos poetas do Amazonas, nasceu no
Mato Grosso do Sul, mas viveu grande parte de sua vida no interior amazonense,
notadamente em Maués e Nhamundá. Sua poesia, além de grande força telúrica, é
representativa do repúdio ao golpe militar de 1964 e à ditadura que se
instalara então. Deixou vários livros de poesia, entre os quais Trilha dágua, Poemas ribeirinhos e Da noite
do rio.  
ARTES
– Sergio Cardoso. Artista plástico,
fotógrafo, cineasta e dramaturgo, é o mais inquieto artista de sua geração,
sempre em busca do novo, sempre desafiando o óbvio. Com uma produtividade
impressionante, mantém o ritmo de duas exposições ao ano, sem deixar cair a
qualidade. Como dramaturgo, é um dos mais produtivos, com mais de 15 peças
encenadas. Está por lançar o livro, já pronto, Teatro urbano das mulheres de Lazone. 
MECENATO
– Fazenda da Esperança. Uma obra
social mantida pela Arquidiocese de Manaus, tendo à frente o bispo auxiliar D.
Mario Pasqualotto, foi fundada em 2001. É um centro para recuperação de
dependentes químicos, com 100 vagas para o público masculino e 30 vagas para o
feminino, além de manter uma unidade em São Gabriel da Cachoeira, também com 30
vagas, para o público masculino. A metodologia empregada, baseada em valores
cristãos, assenta-se no tripé “religiosidade, trabalho e convivência, social e
familiar”. Trabalho essencialmente voluntário, a Fazenda da Esperança tem
contribuído para a recuperação de centenas de jovens, que voltaram ao convívio
da família e a tornar-se cidadãos.   
A
saudação aos agraciados será proferida pelo acadêmico Zemaria Pinto.
O pajé tupinambá
João
Bosco Botelho
         Em maio de
1986, as agências de notícias divulgaram a pajelança do cacique Raoni no
pesquisador Augusto Ruschi, gravemente enfermo, com cirrose hepática. O
aparecimento da doença foi associado ao veneno de um sapo dendrobata, que teria sido inoculado
no ornitólogo durante uma das suas viagens ao Amazonas.
         As imagens
da pajelança foram vistas por milhões de pessoas, no mundo, fascinadas com o
cacique Raoni soprando fumaça de tabaco sobre o pesquisador e fazendo gestos
invocando os espíritos dos mortos, para ajudar na cura do grande naturalista.
         O ritual se
prolongou alguns dias e não mudou o curso da enfermidade. O inesquecível
Augusto Ruschi morreu algumas semanas depois, num centro de tratamento
intensivo, em Vitória do Espírito Santo.
         As
sociedades científicas divulgaram notas explicativas sobre certas
características das mais de quarenta espécies da família Dendrobatidae:
apesar de bem estudada, não existia registro de os venenos serem capazes de
determinar cirrose hepática. Esses anfíbios possuem algumas glândulas
subcutâneas onde secretam  alcaloides que
em contato com a pele humana causam somente pequenas queimaduras na pele.
         Chamou
atenção da imprensa internacional o apoio oferecido pelo presidente da
república para que o ritual fosse consumado o mais rápido possível, tendo
inclusive oferecido o transporte aéreo para levar o pajé até o pesquisador.
         Como ponte para
compreender aquele interesse coletivo em torno da pajelança para salvar a vida
do ornitólogo, seria bom relembrar a importância do pajé tupinambá no Brasil
colônia.
         Existem várias
expressões de origem tupi para designar o personagem que exercia durante os primeiros
séculos da colonização portuguesa o domínio das práticas de curas entre os
tupinambás. Stradelli reconhece o pajé
como sinônimo de paié: ''É o médico, o
conselheiro da tribo, o padre, o feiticeiro, o depositário autorizado da
ciência tradicional. Pajé não é um qualquer. Só os fortes de coração, os que
sabem superar as provas de iniciação, que têm o fôlego necessário para ser
pajé''. Por outro lado, pagi, pay, payni,
paié, paé, piaecé, piaché, pantché são variações de pajé, formadas etimologicamente por
pa-yé, aquele que diz o fim
ou profeta.
         A
relevância social do pajé tupinambá pode ser entendida a partir das várias
descrições dos agentes coloniais, entre séculos 16 e 18. A maior parte
identificando-os como elementos de resistência à dominação; poucos, elogiando
os saberes historicamente acumulados. 
         O
jesuíta José de Anchieta, um dos primeiros a olhar o pajé como feroz inimigo,
escreveu: ''Já não ousas agora servir
de teus artifícios, perversos feiticeiros, entre povos que seguem a doutrina de
Cristo: já não podes com mãos mentirosas esfregar membros doentes...". Contrariamente,
o médico Guilherme Piso, chefe dos
Serviços Médicos das Índias Ocidentais, da comitiva de Maurício de Nassau, registrou:
“Prescindem de laboratórios, ademais, sempre têm à mão sucos verdes e frescos
de ervas. Rejeitam os remédios compostos de vários ingredientes, preferem os
mais simples”. Ao retornar para a Holanda, após a expulsão dos holandeses, Piso
levou consigo muitos remédios prescritos pelos pajés tupinambás, em especial as
que evitavam as amputações dos pés, quase sempre seguidas da penosa morte pela
infecção.
         A esperança de curar o imortal ornitólogo
Augusto Ruschi com o sopro da pajelança estava justificada numa história de
longa duração.
quarta-feira, 23 de abril de 2014
terça-feira, 22 de abril de 2014
O mau-humor no tempo da ópera
As pessoas se enganam
quando dizem que a ópera já não é a mesma. Ela é a mesma – e este é o problema.
(Noël Coward)
Não quero saber em que
língua a ópera será cantada – desde que seja numa língua que eu não entenda.
(Wilson Mizner)
O cúmulo da estupidez é
o sujeito dar um dó de peito com um punhal cravado no dito cujo.
(Luiz Bacellar)
segunda-feira, 21 de abril de 2014
Lábios que beijei 18
Zemaria Pinto
Emiliana
A história da família
de Emiliana emprestava-lhe uma aura trágica: traições, vinganças, assassinatos.
Mas Emiliana era uma flor silvestre colhida nos ermos daquela cidadezinha do
interior. Era de uma brancura extrema, um cor-de-rosa tênue, que se
intensificava no contraste com os cabelos negros, encrespados, curtos. A visão
das pernas de Emiliana era arrebatadora: na minha lembrança, elas estão sempre
envolvidas em uma indefinível luz. Sabendo-se desejada, era generosa, sempre
vestida em leves peças coloridas e um tanto transparentes. Em certa ocasião,
não lembro exatamente por qual motivo, pois ela vivia cercada de gente, atraída
pela sua beleza e pelas fábulas do seu entorno, vi-me sozinho com Emiliana.
Conversávamos banalidades, coisas de escola, sentados no chão. Era um
sofrimento desviar os olhos das pernas de Emiliana. Percebendo meu desconforto,
ela chegou mais perto, tomou minha mão direita e estendeu-a sobre a carne rija
de sua coxa de sonho. Na boca de Emiliana, o aroma das flores do campo, a doce
doçura da língua de Emiliana e uma vertigem que ainda hoje me toma, quando
relembro aquela cena. Nunca mais, nunca mais fiquei sozinho com Emiliana. 
domingo, 20 de abril de 2014
sábado, 19 de abril de 2014
quinta-feira, 17 de abril de 2014
Medalha do Mérito Cultural Péricles Moraes 2007 – 1/7
Zemaria Pinto
I
À primeira 
pergunta , com 
relação  aos critérios ,
tenho respondido que , além  de ser  amazonense  ou  aqui  militar  em  sua  área , a Academia 
leva  em 
consideração  para 
a escolha  dos homenageados o conjunto  da obra .
Hoje  temos aqui 
três  amazonenses ,
manauaras, de sucesso : um  empresário  que  aposta  nos  artistas  locais , uma pianista 
que  fez história 
como  professora de várias gerações  e um  romancista  consagração pela crítica 
e pelo  público .
À pergunta 
sobre  o mecenas ,
digo que  acho que 
deveríamos homenagear  não 
um , mas 
dois , pois  assim  talvez  estimulássemos
o aparecimento  de outros, pois os
artistas e a arte precisam deles. 
Sobre o velho  Péricles Moraes ,
respondo que  eu 
mesmo  até 
há pouco  tempo ,
ignorante , não 
o conhecia. Esta festa  anual 
em  sua 
memória  tem o objetivo 
de tornar  sua 
lembrança  perene 
entre  nós ,
pois , não  à toa , os mais  antigos  metaforizam a Academia 
como  a “casa 
de Péricles Moraes ” – aqui  ele  esteve
por  48 anos ,
tendo sido um  de seus 
fundadores  e, além 
do presidente  Adriano Jorge, o único  a discursar  – duplamente , inclusive  – na memorável  noite  de 09
de janeiro  de 1918, quando 
se deu a instalação  da Sociedade 
Amazonense  de Homens 
de Letras , da qual 
esta Academia  é legítima 
sucessora. Naquela ocasião , Péricles Moraes  fez a apologia 
do seu  patrono ,
o romancista  e ensaísta 
Gonzaga Duque , tecendo um  breve  estudo  crítico 
de sua  obra 
e salientando as características  de sua  arte , conforme  noticiou um 
jornal  da época.[1]
Gonzaga Duque , autor 
de Mocidade  Morta ,
era  o profeta 
daquela religião  que 
tinha  deuses 
franceses e um  mártir 
brasileiro , jamais 
canonizado, dito  João da Cruz e Sousa, também  chamado de Cisne 
Negro  e Dante de Ébano .
Na sequência, o orador  discorreu sobre 
“O Tolstoismo e a verdadeira concepção 
da beleza ”. O mesmo 
jornal  arremata que 
“no desenvolvimento  da tese  que 
constituiu a parte  mais 
importante  de sua 
conferência , o orador 
foi imaginoso  e fecundo ,
fazendo a longa  e torturada psicologia  artística 
de Tolstoi, o incomparável  solitário  de Yosnaia Poliana, misto 
de demagogo e de artista , cujo  nome 
atravessou as fronteiras  da Rússia e
causou a admiração  do mundo , como  o
filósofo mais  singular 
do seu  tempo .”
É claro  que 
o sentido  que 
o jornal  dava para 
a palavra  demagogo não 
era  o mesmo 
que  damos hoje 
para  classificar  certos  tipos  públicos . 
Parece-me que  aquela jornada 
dupla  do bom 
Péricles, na noite  de 09 de janeiro  de 1918, falando em 
nome  dos 30 fundadores 
da nossa  Academia ,
inoculou-nos para  sempre 
esse  pendor 
pelos  discursos 
acadêmicos . 
Obs: Discurso proferido pelo acadêmico Zemaria Pinto, por
ocasião da solenidade de entrega da medalha do Mérito Cultural Péricles Moraes,
realizada na sala do Pensamento Amazônico, sede da Academia Amazonense de
Letras, a 28 de abril de 2007.
[1] A CAPITAL . Manaus: 11 de janeiro 
de 1918. Arquivo  do IGHA. Não  temos elementos 
para  afirmar  com  precisão , mas  no livro  de
Péricles Moraes  Intérpretes  da Amazônia (Manaus, Valer ,
2001) há um  ensaio 
intitulado “Pela  glória 
de Gonzaga Duque ”, que 
poderia  ser  o
mesmo  texto 
de 1918.  
Práticas de curas no cristianismo primitivo
João
Bosco Botelho
         As
ideias e crenças religiosas continuam explicando aspectos da natureza circundante
e, ao mesmo tempo, são usadas em certos controles sociais. As teogonias (nascimento
dos deuses e deusas relacionados à formação do mundo) e a cosmogonia (narrativa,
doutrina ou teoria que explica a origem do mundo e do Universo) estão ligadas aos ciclos naturais visíveis como
à chuva, fecundação do solo, seca e às pestes.
         As
regras garantindo a saúde e evitando a morte, no Antigo e no Novo Testamento,
são suficientes para estabelecer vínculo entre o processo histórico da
consolidação da medicina como instrumento social voltado à compreensão e cura
das doenças, entre os séculos 1 a.C. e o 1 d.C.,  e o cristianismo primitivo.
         Tanto naquele tempo quanto nos dias
atuais é facilmente identificável a grande distância entre a medicina dos ricos
e a dos pobres. Parece-nos ser importante partir desse pressuposto: as práticas
médicas oferecidas aos cidadãos romanos e os próximos da corte eram melhores
que a recebida pelos escravos e oprimidos pela ordem dos imperadores.
         O cristianismo surgiu em condições
sociopolíticas sob o regime escravista do Império Romano. Nessa época, as
massas populares, parte delas de origem judia, que continuavam fugindo após a diáspora,
tiveram um papel fundamental na construção do pensamento cristão. É possível
que a medicina praticada por esse povo, habitante nova no espaço geográfico
aonde se formaria o cristianismo, fosse impregnada dos preceitos médicos do
Antigo Testamento. 
         De acordo com os exegetas as fontes
cristãs que remontam às origens do cristianismo não são muitas. Apesar das
controvérsias uma das tendência acredita que a mais antiga seja o Apocalipse de
São João, do ano 68; seguido das Epístolas, da metade do século 2; dos
Evangelhos, da segunda metade do mesmo século, e a mais recente de todas as
fontes históricas cristãs, o Ato dos Apóstolos. Isto quer dizer que não foi
encontrado documento cristão produzido no século 1.
         Por essas razões é razoável pressupor
que a medicina praticada pelos cristãos dos primeiros séculos estivesse mais próxima
das práticas médicas judaicas. Possivelmente, por essa razão, o cristianismo
primitivo pode ter incorporado o conceito da doença como castigo pelos pecados
cometidos, existente séculos antes, entre os judeus da diáspora. Na realidade, essa
interpretação da doença, sob a exclusiva interpretação das ideias e crenças
religiosas, compreensão do sagrado, está presente desde os primeiros registros,
na Mesopotâmia, Egito e Índia, nos respectivos livros sagrados dessas
respectivas culturas. 
         Afora o sentido sagrado
neotestamentário, de inigualável senso religioso, os Apóstolos também
entenderam Jesus Cristo como profeta (Mt 16,14; Lc 7,16; Jo 4,19 e 9,17) capaz
de provocar milagres. 
         Estabelecendo o juízo de valor, o
grande Thomás de Aquino dividiu os milagres em absolutos ou de primeira ordem e
relativos ou de segunda ordem. O milagre apologético, sempre de primeira ordem,
serve de louvor. Deve ser perceptível e confirmar a origem divina da revelação.
Tem particular interesse o aspecto físico porque é observável nos corpos. Logo,
a cura de uma doença, considerada fatal e irreversível, pode ser entendida como
milagrosa e um sinal de Deus.
         A
extraordinária beleza descritiva apostólica dos milagres operados por Jesus
Cristo, inclusiva na prática médica dos primeiros tempos cristãos, envolve a
essência da medicina como prática social: a generosidade que cativou o mundo e
consolidou a Nova Aliança. 
quarta-feira, 16 de abril de 2014
terça-feira, 15 de abril de 2014
segunda-feira, 14 de abril de 2014
Sobre versejadoras histéricas e medíocres
Não intento
aludir, é claro, à farândola desconcertante das versejadoras histéricas e
medíocres que, à sombra dos dislates de um falso modernismo, e numa linguagem
referta de cacologias, no mesmo passo corrompem e desmoralizam a arte e o
idioma. 
Péricles Moraes (1882-1956), 
no ensaio “Exaltações da poesia tropical”, onde ele analisa a poesia de
Violeta Branca, tirando o corpo e a pena fora da poesia rola-bosta. 
Quanta atualidade!
domingo, 13 de abril de 2014
Manaus, amor e memória CLV
sábado, 12 de abril de 2014
sexta-feira, 11 de abril de 2014
Otelo Solo na Aparecida
quinta-feira, 10 de abril de 2014
Caravana Literária – gênese e apocalipse
Zemaria Pinto
No princípio 
era  a palavra .
E a palavra  vestiu-se de música . E a palavra 
se fez canção . No princípio 
era  a canção .  E a canção 
fez-se poema . E do poema 
brotou a poesia . No princípio 
era  a poesia .
Assim  nasceu a poesia .
Porque  o poema 
e a canção  nasceram da mesma  semente  e
mesclaram-se e fundiram-se e viraram-se pelo  avesso , feito  dois  amantes 
enlouquecidos, confundindo pernas  e braços  e peitos 
e línguas  – os olhos 
fechados fitando o infinito .
O que 
é poesia?, pergunta  a menininha, com  um  brilho  estranho 
nos  olhos :
ela  sabe que 
essa pergunta  não 
tem resposta . Poesia 
não  se define, garota .
Poesia  é emoção ?
Não , a gente 
faz poesia  pra 
não  sofrer  do
coração . Poesia 
é confissão ? Não ,
poesia  é ficção 
e fricção . Poesia 
é comunhão ? Não !
Poesia  é fratura 
exposta . Poesia 
é rompimento , fragmentação .
Poesia  é (revire os olhinhos) “exercício  de linguagem ”?
Não ! Poesia 
é imaginação . “Um 
boi  e um 
homem  são 
levados  ao matadouro .
O primeiro  a berrar  é o homem . Mesmo  que  seja o boi .”
O que 
é poesia , então?, pergunta 
o garotinho, com  um 
sorriso  igualzinho ao do Chuck. Poesia  não  se
define, menino , não 
enche. Poesia  é luz ?
É escuridão ! Poesia 
é sonho ? É a realidade 
da vida  banal !
Poesia  é sentimento ?
Não , poesia 
é alegria , alegoria ,
fantasia . Poesia 
é carnaval !
Manaus, Fevereiro de 2006
__________________________________________
A Caravana  Literária 
começou a atuar  nas escolas 
públicas em  2004, como 
uma forma  de divulgar  a
produção  poética 
dos participantes e incentivar  alunos 
e professores  a apreciar 
a literatura  que 
se faz no Amazonas . A partir 
de meados  do ano 
seguinte , o grupo 
estruturou-se em  torno 
dos poetas  Aldisio Filgueiras, Davi
Ranciaro, Dori Carvalho  e Zemaria Pinto , com  a
participação do grupo  Jiquitaia, que , tendo à frente 
o compositor  Mauri Marques, tem um  trabalho  voltado para , por  meio  da música ,
divulgar  a poesia 
amazonense.
Deuses gregos curadores: Apolo e Asclépio
João Bosco Botelho
         O
contínuo movimento dos homens e mulheres é uma das principais diferenças da
cultura grega das anteriores que se desenvolveram nas margens dos rios Indo e
Nilo. Ao contrário das pinturas e esculturas, estáticas frontais ou laterais,
egípcias e mesopotâmicas, a grega mostrava os corpos em movimentos. 
         De
maneira semelhante, talvez mantendo laços na construção cultural, a teogonia
(nascimento dos deuses e deusas relacionados à formação do mundo) e a
cosmogonia gregas (narrativa, doutrina ou teoria que explica a origem do mundo
e do Universo) se assentaram na grande mobilidade de deuses e deusas descritos
com qualidades e defeitos equiparados aos dos humanos.
         Na
complexa construção do panteão (conjunto de deuses e deusas de determinada
religião politeísta) grego reproduzindo o nascimento das divindades, como se
atavam às agruras humanas e os caminhos míticos das soluções, sem dúvida, receberam
destaque os deuses mais competentes para curar doenças temidas.
         Apolo,
filho de Zeus e Leto (uma das amantes prediletas de Zeus), adorado na Grécia e
nas cidades do Mediterrâneo oriental, como deus da luz do sol, vencia a
obscuridade; da purificação, trazia a benção da pureza do belo; da harmonia,
vencia os conflitos; e da adivinhação, mostrava aos homens e às mulheres o
caminho da cura. Ao mesmo tempo, o povo grego também reconhecia e temia Apolo
como cruel vingador quando se sentia contrariado, matava os inimigos com as
flechas de ouro certeiras, presentes de Zeus, logo após seu nascimento.    
         Na
Grécia, o mito da carruagem trazendo o sol luminoso se ligou a Hélios e seu
filho Faetonte.  Após a conquista romana,
nas representações artísticas que incluem moedas, pinturas e esculturas de
mármore e bronze, Apolo se confunde com Hélios, o deus-sol grego. As imagens
metamórficas desse poderoso deus curador penetraram no território romano,
sempre ligadas às proteções das doenças, talvez por essa razão,
indissoluvelmente atado ao controle do sol radiante.
         Com
as qualidades e defeitos humanos, Apolo foi infeliz em algumas paixões,
rejeitado e traído em outras. Contudo, gerou descendências de natureza divina,
de heróis e de semideuses. Entre as onze mulheres amadas por ele que geraram
onze filhos, se destacou a paixão avassaladora com Coronis, filha de Flégia,
rei da Tessália. Dessa união plena de dramas e artimanhas nasceu Asclépio, que
se tornaria o mais importante deus curador grego, a partir do século 4 a.C.,
vivamente festejado no dia 12 de outubro em grandes procissões nas ruas. 
         Após
a conquista da Grécia pelas legiões romanas, Asclépio absorvido na cultura
mítica do conquistador, recebeu o nome de Esculápio. As grandes festas públicas
que comemoravam Asclépio e Esculápio continuaram com grandeza crescente. O
cristianismo em franca ascensão não conseguia conter o culto desses deuses
curadores. O sincretismo não tardou, as autoridades eclesiásticas determinaram
que 12 de outubro fosse o dia do nascimento de Lucas, o apóstolo médico. Desse
modo, na atualidade, muitos médicos continuam comemorando o “Dia do Médico” sem
saberem que se trata do “Dia de Asclépio”.
Como no mito de Gilgamesh,
do panteão mesopotâmico, no qual o herói presenciou a planta da vida eterna ser
comida pela cobra, que imediatamente após, renasceu perdendo a pele, a condição
mortal humana está expressa na morte de Asclépio, determinada por Zeus por meio
dos raios dos Ciclopes, temendo que a ordem natural do mundo fosse alterada pela
ressuscitação os mortos.
quarta-feira, 9 de abril de 2014
terça-feira, 8 de abril de 2014
Edifício Marquês de Sade
No livro Edifício Marquês de Sade, o escritor
amazonense Tenório Telles estreia no universo dos contos eróticos. Ele é
organizador da obra, junto com os paulistas Roberto Fabra e Daniel Vas, e
também assina dois textos: “A sétima lua cheia” e “Os peitos de mamãe”.  
A obra é resultado de
uma oficina de criação literária que Tenório participou em São Paulo. “O livro
é fruto de um trabalho que participei sob orientação do escritor Marcelino
Freire que promove anualmente uma oficina de criação literária com ênfase no conto.
Uma das atividades práticas foi criar contos com temática erótica. Ao final,
nós fizemos uma seleção com os melhores textos e dessa seleção resultou o livro”,
comenta.
Conhecido por seu trabalho com a poesia, Tenório conta como foi a
experiência nesse novo gênero: “Eu já havia escrito alguns contos como
exercício mesmo, mas a minha relação de criação literária é com a poesia. Não
tinha pretensão de escrever ficção e, sim, meus ensaios e textos para o teatro.
Mas com essa experiência me senti estimulado. Foi  um bom exercício até de sutileza porque ao escrever
um conto erótico, você corre o risco, se não souber dosar, de descambar para a vulgaridade,
para a pornografia. É um exercício de contenção”, pontua.
O escritor adianta que está escrevendo novos textos do gênero para, em
breve, publicar.
“Já penso em publicar um livro só com textos eróticos. Já estou
escrevendo. É uma experiência libertadora. As pessoas têm muitos pudores, ficam
constrangidas de falar sobre sexualidade. Isso é uma grande bobagem porque a
sexualidade é inerente à vida”. 
Sobre
a obra 
Edifício
Marquês de Sade (o título já acende a nossa curiosidade)
traz, na sua apresentação, o seguinte parágrafo: “Pode entrar. No Edifício Marquês de Sade, são bem-vindos
todos os gêneros, credos, medos, arroubos. Venha você de onde for. E parta para
onde quiser. Quem chega aqui só não consegue sair igual ao que entrou”
A porta do Edifício encontra-se aberta, aliás,
escancarada. O anunciante do convite diz que todos são convidados, mas,
pergunto-me: Todos mesmo? Ou somente os de “passos mansos”, os “sem pudor”, os
“poucos com maldade”, os “todos sem saciedade”?
A resposta às questões
só poderá ser encontrada se entrarmos no Edifício
Marquês de Sade; quando nos ambientamos nos seus quartos ou olhamos para
além das suas janelas; quando, na imaginação, construímos a sala, com um piano,
diante dele um pianista sem rosto, num restaurante vazio. A ideia do Edifício começa, então, a ser nítida.
No Edifício, vivem-se sentimentos, insinuam-se queixas, lamentos e
situações doces e, ao mesmo tempo, caóticas, por serem esperas desesperançadas,
por serem, apenas, memórias, coisas do inconsciente, aparentemente sem nexo ou
importância. Mas também dores e sentimentos reais: abandono, sofreguidão,
esperança e amor. 
O Edifício alardeia um fogaréu. É Cecília, a esposa dedicada de um
grande investidor, num dos seus atendimentos em horário comercial. E... por aí
vai... até os contos finais, que se fecham em “A sétima lua cheia”, que tem
Morgana (a fantasia, o júbilo, a artimanha e o ardil) como protagonista. Não
seria o Edifício Marquês de Sade se
não entrelaçasse a loucura, a fantasia, a virgindade, a prostituição, a beleza
e o torpor espelhados pela Sétima Lua
Cheia sobre finos lençóis de linho.
Evento: Lançamento de livro 
Título: Edifício Marquês
de Sade
Organizadores: Tenório Telles, Roberto Fabra e
Daniel Vas
Data: 12 de
abril de 2014 (sábado)
Horário:
10h
Local: Livraria Valer - Avenida
Ramos Ferreira, 1195 ─ Centro
Marcadores:
Daniel Vas,
Lançamentos,
Marquês de Sade,
Roberto Fabra,
Tenório Telles
segunda-feira, 7 de abril de 2014
Lábios que beijei 17
Zemaria Pinto
Monga
Nunca lhe soube o nome
verdadeiro, mas as duas semanas em que Monga, a mulher-gorila, esteve na
cidadezinha à margem do verde rio foram de absoluto êxtase. O espetáculo era
tosco. A maquiagem, pré-King Kong – filme que assistíramos no ano anterior, no
poeira da cidade, em rolos insuportavelmente picotados. Mas Monga, a atriz –
por que não? –, era de uma beleza angelical. Como faziam aquela
monstruosidade de mau gosto a uma moça tão bela? Magra, alta (pelo menos, para
os meus 12 anos), os cabelos crespos, negros, derramados sobre a pele
rosacobreada, o nariz afilado, os olhos negros e a boca – a boca sutilmente
desenhada, num matiz carmim. Por trás da tenda onde se dava a metamorfose em
duas sessões noturnas, havia um trailer, que funcionava como camarim. Por uma
fenda na parede, amei Monga noturnamente, por duas semanas – antes e depois dos
espetáculos. O seu corpo, despido do leve vestido cotidiano, cobria-se inteiro
com a negra roupa de cena, botas e luvas negras – somente o rosto à
mostra.  Passados mais de setenta anos,
ainda sonho com Monga, o seu rosto, apenas – os olhos semicerrados –, flutuando
assimétrico na escuridão, onde não distingo mais nada, nem mesmo as minhas
criminosas mãos.
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