Zemaria Pinto
II
A história
da família Tadros confunde-se com a história
do Amazonas nos
últimos 130 anos .
O empresário José Roberto Tadros, a quem a Academia
Amazonense de Letras
tem a honra de homenagear
nesta noite na categoria
mecenato , representa a quarta geração
dessa família , cuja
primeira iniciativa
comercial , a Tadros & Cia , remonta ao
longínquo 1874.
Advogado, professor ,
cônsul honorário
da Grécia, co-autor do livro Incentivos
Fiscais para o Progresso
do Amazonas , membro
de diversas associações culturais – entre elas o nonagenário Instituto
Geográfico e Histórico
do Amazonas , José Roberto Tadros
amealhou até esta data
mais de 80 comendas
(estrangeiras, nacionais e locais ), nas mais
diversas áreas , que
o credenciam como uma das mais importantes
personalidades do nosso
Estado . A essas honrarias ,
soma-se hoje a Medalha
do Mérito Cultural Péricles Moraes , como reconhecimento ao seu
trabalho , especialmente
à frente do SESC, incentivando a música popular ,
a dança , as artes
plásticas , a literatura
e o teatro .
Mecenas, o fiel conselheiro
de Otávio Augusto , preservou para a posteridade a imagem de desinteresse
no apoio que
deu a Virgílio, Horácio, Propércio e Vário . Se é verdade que ele sugeriu a Virgílio o tema
das Geórgicas, também
é verdade que
não censurou ou
interferiu no trabalho de seus
protegidos. A liberdade de criação está, pois ,
atrelada ao mecenato . Tadros não faz
diferente: delega, gerencia, exige, confia. Ou não seria possível
multiplicar-se em tantos para dar conta dos múltiplos afazeres. Administrar
cultura é administrar egos, muitas vezes explosivos – é preciso pulso firme
para não deixar o interesse individual sobrepor-se ao coletivo. Mas, assim
testemunham aqueles que lhe estão mais próximos, a carapaça esconde uma
sensibilidade refinada e uma visão de futuro privilegiada. Tadros acredita que
todos têm direito e devem ter acesso à arte e à cultura.
Alguns dos projetos do SESC já
atravessam décadas , como
a Feira de Livros, que
vai para a vigésima
primeira edição ,
formando leitores e promovendo a
literatura – e da qual muitos dos aqui presentes, eu inclusive, participamos
ativamente. Um projeto
singelo como
o Festival de Calouros
vai para sua
27ª edição , tendo revelado vários dos talentos
que hoje
brilham nos palcos
da cidade . Outros
deixaram saudade , como
o Zonarte, que reunia música , dança , teatro e artes plásticas ; e Nosso
Mercado , que
teve como foco
a revitalização do Mercado Grande enquanto
espaço cultural. O desfecho ,
com a Noite
Tribal – eu
estava lá –, foi inesquecível .
Aliás , há uma tendência
a transformar os antigos
mercados em
amostras da vocação
cultural de uma cidade , refletindo seus vários matizes . O Projeto
Nosso Mercado
passava essa mensagem , que , parece, não
foi escutada.
Tenho em mãos a Antologia
de Contos do SESC, publicada no final do ano passado. Eis um belo exemplo do
trabalho de Tadros. Conforta-me encontrar nomes conhecidos de ex-alunos, mas,
principalmente, alegra-me vislumbrar naquele pequeno livro o futuro acontecendo:
ali estão, saindo do casulo, alguns dos nossos vindouros companheiros de ofício.
Não deixo de registrar a Galeria
Moacir Andrade, palco de incontáveis exposições .
Aliás , o nosso
querido confrade
Moacir vai ganhar agora
do SESC um Memorial ,
o que só
enfatiza a preocupação de Tadros com a valorização do artista
amazonense . O interior
começa também
a ser contemplado, com
a restauração de uma casa antiga em Manacapuru, onde
funcionam projetos de cinema , leitura
e atividades ligadas
à música e ao teatro .
Todos esses
projetos contam com
o apoio integral
e o acompanhamento direto de José Roberto
Tadros.
Tendo iniciado suas
atividades nos anos 60, o TESC, o Teatro Experimental do SESC, ficou um longo
tempo emudecido, retornando às suas atividades há cinco anos, com o apoio
incondicional de Tadros. Os bons tempos voltaram, com Márcio Souza à frente,
enchendo de criatividade aquele iluminado espaço da Henrique Martins. Aos
balzaquianos A Paixão de Ajuricaba, Dessana Dessana e As Folias do Látex juntaram-se os novos Hamlet, Marx na Zona e Sábados Detonados – irreverentes,
antropofágicos, escrachados, mas sobretudo críticos e independentes.
Música, dança , artes plásticas , teatro ,
literatura . Essa tem sido a ação
– discreta , mas
determinada ; simples ,
mas ousada
– de José Roberto Tadros em favor da cultura e
das artes do nosso
Estado . A justa
homenagem que
hoje lhe
prestamos é um pedido
para que faça
mais e mais :
o Amazonas , penhorado, agradece.