Amigos do Fingidor

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Medalha do Mérito Cultural Péricles Moraes 2007 – 2/7



Zemaria Pinto

II

A história da família Tadros confunde-se com a história do Amazonas nos últimos 130 anos. O empresário José Roberto Tadros, a quem a Academia Amazonense de Letras tem a honra de homenagear nesta noite na categoria mecenato, representa a quarta geração dessa família, cuja primeira iniciativa comercial, a Tadros & Cia, remonta ao longínquo 1874.
Advogado, professor, cônsul honorário da Grécia, co-autor do livro Incentivos Fiscais  para  o Progresso do Amazonas, membro de diversas associações culturais – entre elas o nonagenário Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, José Roberto Tadros amealhou até esta data mais de 80 comendas (estrangeiras, nacionais e locais), nas mais diversas áreas, que o credenciam como uma das mais importantes personalidades do nosso Estado. A essas honrarias, soma-se hoje a Medalha do Mérito Cultural Péricles Moraes, como reconhecimento ao seu trabalho, especialmente à frente do SESC, incentivando a música popular, a dança, as artes plásticas, a literatura e o teatro.
Mecenas, o fiel conselheiro de Otávio Augusto, preservou para a posteridade a imagem de desinteresse no apoio que deu a Virgílio, Horácio, Propércio e Vário. Se é verdade que ele sugeriu a Virgílio o tema das Geórgicas, também é verdade que não censurou ou interferiu no trabalho de seus protegidos. A liberdade de criação está, pois, atrelada ao mecenato. Tadros não faz diferente: delega, gerencia, exige, confia. Ou não seria possível multiplicar-se em tantos para dar conta dos múltiplos afazeres. Administrar cultura é administrar egos, muitas vezes explosivos – é preciso pulso firme para não deixar o interesse individual sobrepor-se ao coletivo. Mas, assim testemunham aqueles que lhe estão mais próximos, a carapaça esconde uma sensibilidade refinada e uma visão de futuro privilegiada. Tadros acredita que todos têm direito e devem ter acesso à arte e à cultura.
Alguns dos projetos do SESC atravessam décadas, como a Feira de Livros, que vai para a vigésima primeira edição, formando leitores e promovendo a literatura – e da qual muitos dos aqui presentes, eu inclusive, participamos ativamente. Um projeto singelo como o Festival de Calouros vai para sua 27ª edição, tendo revelado vários dos talentos que hoje brilham nos palcos da cidade. Outros deixaram saudade, como o Zonarte, que reunia música, dança, teatro e artes plásticas; e Nosso Mercado, que teve como foco a revitalização do Mercado Grande enquanto espaço cultural. O desfecho, com a Noite Tribaleu estava –, foi inesquecível. Aliás, há uma tendência a transformar os antigos mercados em amostras da vocação cultural de uma cidade, refletindo seus vários matizes. O Projeto Nosso Mercado passava essa mensagem, que, parece, não foi escutada.
Tenho em mãos a Antologia de Contos do SESC, publicada no final do ano passado. Eis um belo exemplo do trabalho de Tadros. Conforta-me encontrar nomes conhecidos de ex-alunos, mas, principalmente, alegra-me vislumbrar naquele pequeno livro o futuro acontecendo: ali estão, saindo do casulo, alguns dos nossos vindouros companheiros de ofício.  
Não deixo de registrar a Galeria Moacir Andrade, palco de incontáveis exposições. Aliás, o nosso querido confrade Moacir vai ganhar agora do SESC um Memorial, o que enfatiza a preocupação de Tadros com a valorização do artista amazonense. O interior começa também a ser contemplado, com a restauração de uma casa antiga em Manacapuru, onde funcionam projetos de cinema, leitura e atividades ligadas à música e ao teatro. Todos esses projetos contam com o apoio integral e o acompanhamento direto de José Roberto Tadros.
Tendo iniciado suas atividades nos anos 60, o TESC, o Teatro Experimental do SESC, ficou um longo tempo emudecido, retornando às suas atividades há cinco anos, com o apoio incondicional de Tadros. Os bons tempos voltaram, com Márcio Souza à frente, enchendo de criatividade aquele iluminado espaço da Henrique Martins. Aos balzaquianos A Paixão de Ajuricaba, Dessana Dessana e As Folias do Látex juntaram-se os novos Hamlet, Marx na Zona e Sábados Detonados – irreverentes, antropofágicos, escrachados, mas sobretudo críticos e independentes.
Música, dança, artes plásticas, teatro, literatura. Essa tem sido a açãodiscreta, mas determinada; simples, mas ousada – de José Roberto Tadros em favor da cultura e das artes do nosso Estado. A justa homenagem que hoje lhe prestamos é um pedido para que faça mais e mais: o Amazonas, penhorado, agradece.