Amigos do Fingidor

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Lábios que beijei 18



Zemaria Pinto
Emiliana


A história da família de Emiliana emprestava-lhe uma aura trágica: traições, vinganças, assassinatos. Mas Emiliana era uma flor silvestre colhida nos ermos daquela cidadezinha do interior. Era de uma brancura extrema, um cor-de-rosa tênue, que se intensificava no contraste com os cabelos negros, encrespados, curtos. A visão das pernas de Emiliana era arrebatadora: na minha lembrança, elas estão sempre envolvidas em uma indefinível luz. Sabendo-se desejada, era generosa, sempre vestida em leves peças coloridas e um tanto transparentes. Em certa ocasião, não lembro exatamente por qual motivo, pois ela vivia cercada de gente, atraída pela sua beleza e pelas fábulas do seu entorno, vi-me sozinho com Emiliana. Conversávamos banalidades, coisas de escola, sentados no chão. Era um sofrimento desviar os olhos das pernas de Emiliana. Percebendo meu desconforto, ela chegou mais perto, tomou minha mão direita e estendeu-a sobre a carne rija de sua coxa de sonho. Na boca de Emiliana, o aroma das flores do campo, a doce doçura da língua de Emiliana e uma vertigem que ainda hoje me toma, quando relembro aquela cena. Nunca mais, nunca mais fiquei sozinho com Emiliana.