Amigos do Fingidor

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Caravana Literária – gênese e apocalipse



Zemaria Pinto

No princípio era a palavra. E a palavra vestiu-se de música. E a palavra se fez canção. No princípio era a canção.  E a canção fez-se poema. E do poema brotou a poesia. No princípio era a poesia. Assim nasceu a poesia. Porque o poema e a canção nasceram da mesma semente e mesclaram-se e fundiram-se e viraram-se pelo avesso, feito dois amantes enlouquecidos, confundindo pernas e braços e peitos e línguas – os olhos fechados fitando o infinito.

O que é poesia?, pergunta a menininha, com um brilho estranho nos olhos: ela sabe que essa pergunta não tem resposta. Poesia não se define, garota. Poesia é emoção? Não, a gente faz poesia pra não sofrer do coração. Poesia é confissão? Não, poesia é ficção e fricção. Poesia é comunhão? Não! Poesia é fratura exposta. Poesia é rompimento, fragmentação. Poesia é (revire os olhinhos) “exercício de linguagem”? Não! Poesia é imaginação. “Um boi e um homem são levados ao matadouro. O primeiro a berrar é o homem. Mesmo que seja o boi.”

O que é poesia, então?, pergunta o garotinho, com um sorriso igualzinho ao do Chuck. Poesia não se define, menino, não enche. Poesia é luz? É escuridão! Poesia é sonho? É a realidade da vida banal! Poesia é sentimento? Não, poesia é alegria, alegoria, fantasia. Poesia é carnaval!

Antes mambembes, agora somos profissionais. Mas não tente tirar a máscara da nossa face. Nãomáscara, somos assim mesmos... A Caravana Literária, de fevereiro a fevereiro, saúda o distinto público e pede passagem. Evoé!

Manaus, Fevereiro de 2006

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A Caravana Literária começou a atuar nas escolas públicas em 2004, como uma forma de divulgar a produção poética dos participantes e incentivar alunos e professores a apreciar a literatura que se faz no Amazonas. A partir de meados do ano seguinte, o grupo estruturou-se em torno dos poetas Aldisio Filgueiras, Davi Ranciaro, Dori Carvalho e Zemaria Pinto, com a participação do grupo Jiquitaia, que, tendo à frente o compositor Mauri Marques, tem um trabalho voltado para, por meio da música, divulgar a poesia amazonense.