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quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Associação ao sagrado na medicina grega


João Bosco Botelho


A formação grega antiga tem as suas raízes nas invasões da península itálica pelos indo-europeus, no segundo milênio a. C. No século VIII a. C., chegam a essa região os regos, cartagineses e etruscos, povos mais adiantados em relação aos primeiros invasores.
Entre os séculos VIII e VI a. C. várias cidades são organizadas, contudo Atenas e Esparta se destacam com melhor organização social. Por essa razão, o confronto armado entre elas, a guerra do Peloponeso, no século V a. C., tornou-se inevitável e contribuiu para enfraquecê-las.
Em 359 a. C., Filipe da Macedônia, com 23 anos de idade, frente a um numeroso exército organizado, conquistou todas as cidades gregas. Com a base grega consolidada, seu filho Alexandre, o Grande, iniciou a anexação militar do imenso Império persa.
De modo geral é possível estabelecer quatro períodos na Medicina grega antiga:
– Primeiro período ou mitológico: mais abundante entre os séculos X e VII a. C., foi caracterizado pela essência mitológica, na qual os numerosos deuses do panteão grego são os responsáveis pela saúde e pela doença dos homens e das mulheres.
– Segundo período ou filosófico: inicialmente, liderado pelos filósofos pré-socráticos, teve o marco fixado no século VI a.C., quando foi iniciada a dissociação entre a Medicina e as idéias e crenças religiosas.
– Terceiro período ou hipocrático: desenvolveu-se em torno de Hipócrates e dos seus seguidores, no século IV a. C., na ilha de Cós, quando foi descrita a primeira teoria geral – teoria dos Quatro Humores – para explicar a saúde e a doença, representando a consolidação da ruptura da Medicina com os deuses.
– Quarto período ou pós-hipocrático: relacionado com o surgimento das correntes médico-filosóficas em Alexandria, logo após a morte de Hipócrates, no ano 377 a. C., que defendiam o dogmatismo e o empirismo.
A maior característica do panteão grego dessa fase é o caráter humano dos seus deuses, isto é, além de antropomórficas, as divindades eram materializadas como as mais bonitas, mais fortes, mais apaixonadas, mais viris do que os humanos, sempre encarregados de proteger tudo e todos em setores específicos da vida social.
Entre as centenas de deidades, as relacionadas com a saúde e a doença recebiam especial deferência:
– Afrodite: deusa da beleza e do amor, desfrutava de imensa importância na solução dos problemas sexuais;
– Hera: mulher de Zeus, protegia as mulheres grávidas das complicações do parto; Panaceia: deusa de todas as curas;
– Héracles: adepto da hidroterapia, utilizava plantas Medicinais com efeitos sedativos.
Destaque especial ao deus Asclépio. Os primeiros registros desse importante deus grego datam de 1260 a.C., na Tessália. Filho do poderoso Apolo com a bela e mortal Coronis, foi educado pelo centauro Quirão, o mestre do saber médico. Em consequência do seu extraordinário poder de ressuscitar os mortos, Asclépio foi elevado à suprema posição de deus da Medicina. Contudo, Zeus, outro influente deus grego, enciumado com o destaque de Asclépio e receoso que a ordem mortal do mundo fosse afetada pelo poder de ressuscitar os mortos, decretou sua morte com os raios dos Ciclopes. A cobra enrolada num bastão se tornou o símbolo do deus da Medicina grega. A tradição mitológica grega identifica a família de Asclépio constituída de dois filhos: Macaon, o mestre da cirurgia, e Podalírio, o inigualável clínico; e duas filhas: Hígia, aquela que assegura a prevenção das doenças, e Panaceia, o símbolo do remédio para todas as doenças.