Amigos do Fingidor

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Banhos de chuva


Pedro Lucas Lindoso


Estamos na época do Advento. Época de esperar a vinda do Menino Deus e meditar sobre o que aconteceu no ano que finda.
Houve coisas boas e coisa ruins. Quando menino gostava muito de tomar banhos de chuva. Não havia perigo. Morava no Centro. Não havia bueiros “boca de lobo” nas ruas.  Uma notícia no jornal me chocou tremendamente. Foi no mês de abril. Abril, chuvas mil.
Um menino chamado Andrezinho, de seis anos de idade, foi tragado por um bueiro. Encontrado morto. Andrezinho desapareceu após cair numa “boca de lobo” que deságua em um igarapé na Rua Perimetral, no bairro Amazonino Mendes, também chamado de Mutirão, na Zona Norte, aqui em Manaus. Descobriu-se que ele não existia. Não tinha certidão de nascimento. Não frequentava a escola.  Filho adotivo de pais separados. Seu corpo ficou insepulto por um mês. Até regularizarem tudo.
Sei de outro menino da idade de Andrezinho que mora em Brasília e provavelmente não toma banhos de chuvas. Tem certidão de nascimento e também cédula de identidade. Tem CPF e tem passaporte. Diplomático. E frequenta uma excelente escola. Particular.
Há mais de dois mil anos atrás nasceu o Menino Deus. Nessa época já registravam as pessoas. Pelo menos havia recenseamentos. José e Maria, seus pais, viajavam para Belém da Judeia, onde José deveria se apresentar às autoridades censitárias da época.
Segundo Lucas, o imperador Augusto decretou que todo mundo tinha de se registrar no local onde nasceu. Como José era descendente da família do Rei David, saiu para Belém com a mulher grávida. A família morava em Nazareth.
Esse Menino Deus veio para nos salvar. Teve oportunidade de estudar. Assombrava a todos no templo, com sua inteligência e sabedoria. Provavelmente, tomava banhos de chuva no rio Jordão. O Menino Deus renasce todo ano pelo Natal. Renova as nossas esperanças. O advento é tempo de conversão. É tempo de alegria. De júbilo.
Neste ano, rogo ao Menino Deus para que todos os meninos do Amazonas e do Brasil possam ter um registro civil. E possam também frequentar uma boa escola. E que possam tomar banhos de chuva com tranquilidade.