Amigos do Fingidor

sábado, 11 de abril de 2009

Jinriquixá
Benayas Inácio Pereira

O riquixá é um veículo de tração humana, que já foi usado pelas melhores famílias europeias, conforme nos mostra este quadro de Claude Gillot, de 1707, Les Deux Carrosses.

Pensa bem, ó gentio, onde, além do Palavra do Fingidor, obterias informação tão preciosa?...

Esta palavra se origina do japonês e significa “homem-força-carro”. O país que mais utiliza o jinriquixá ou riquixá é a Índia. Nem sei bem o porquê de eu estar explicando tudo isso, já que eu tenho certeza absoluta que todos sabem o que é. Como já comecei, todavia, vou acabar de explicar para não me sentir um leso. Vai servir mais como curiosidade.

É que na Índia a coisa não é muito fácil. O cara que trabalha na zona rural, de repente, se vê sem trabalho e, por viver na miséria extrema, chegando pertinho da condição subumana, resolve ir para a cidade, para tentar ganhar “algum”. Igual a eles, outros têm a mesma ideia e, nesse caso, a população urbana cresce de maneira assustadora. Uma vez que esses ruralistas não têm a mínima escolaridade, o único serviço que conseguem é ser jinriquixaristas. Agora temos uma visão mais clara do jinriquixá. É isso mesmo. É aquela carrocinha puxada pelo homem que, além de transportar pessoas, pode também transportar mercadorias.

Vou continuar falando, ok? Para se saber em que pé a coisa está, a Índia tem hoje mais de um bilhão e cem milhões de pessoas e, segundo os entendidos, no máximo no ano de 2035, ela ultrapassará a China e se tornará o país mais populoso do mundo. Pô! Isso aqui é uma crônica ou aula de geografia? Vou voltar ao jinriquixá. A Índia possui hoje 8.000.000, isso mesmo; oito milhões de jinriquixaristas. E 95% deles não são donos das “carroças”. A moeda oficial da Índia é a rúpia (50 rúpias valem um dólar). Sem dinheiro para comprar um jinriquixá, sabem o que eles fazem? Não? Ora! Alugam o jinriquixá para labutar.

O aluguel diário é de 25 rúpias e, não adianta procurar outro dono, porque todos os proprietários pertencem a uma espécie de máfia, e o aluguel é tabelado. Tem tanta gente atrás desse trabalho que se, ao final do dia, as 25 rúpias não estiverem nas mãos dos donos, um abraço! No dia seguinte, e sem nenhuma explicação, tem outra pessoa puxando o tal jinriquixá. Dizem as más línguas indianas que por lá estão tentando formar um sindicato e os caras que “puxam” as carrocinhas poderão, com o tempo, adquirir as suas e se livrar dos “mafiosos”. Eles pensam até em pôr publicidade no jinriquixá para poder aumentar a receita e passar menos fome.

O riquixá é o veículo perfeito: não polui a atmosfera, não provoca engarrafamentos, além de ser um excelente exercício para o condutor.

Eu sei que vocês devem estar pensando que eu fiquei louco de escrever tantas baboseiras, pois isso aqui não é crônica nem aqui nem na Índia. Vou tentar explicar.

Numa quinta-feira eu me encontrei com um grande amigo meu. Almoçamos um saboroso prato, falamos besteira, rimos muito e, na ocasião, ele, por mera curiosidade, perguntou-me se eu sabia o nome “daquela carrocinha que puxava pessoas”. Eu tinha um leve conhecimento sobre o assunto, mas resolvi pesquisar um pouco mais, para não falar bobagens para ele. No sábado seguinte, em uma ligadinha, falei rapidamente o resultado do que eu havia pesquisado, mas, por ele ser uma pessoa importante e muito ocupada, fiquei de escrever tudo e passar a ele, para que lesse com mais calma. (Lembro-me apenas de ter citado o nome da tal “carrocinha”).
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Assim eu fiz, porém, não tive tempo hábil para enviar-lhe a pesquisa onde eu falava em detalhes o que seria o jinriquixá. É que na terça-feira seguinte, ele, marotamente, e sem me avisar, resolveu atravessar aquele rio de águas cristalinas, e não vai voltar mais para este lado. Só espero que esta seja a última peça que ele me prega e que isso não se repita mais. Viu, Sebastião Reis?